Lugar de liberdade e proteção: Conselho Universitário da Uerj aprova moção em defesa da escola brasileira

17/04/202317:58

Diretoria de Comunicação da Uerj

O Conselho Universitário (Consun) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) aprovou, por unanimidade, na sessão da última sexta-feira (14), moção em defesa das instituições de ensino do país. Confira o texto na íntegra:

Em defesa da escola!

A escola brasileira está sob ataque. Da educação infantil ao ensino superior. Não é de hoje, mas tem se agravado e assumido formas diversas e cada vez mais violentas.

Eventos recentes com vítimas dentro de escolas chocaram e mobilizaram a opinião pública. No Rio de Janeiro, em meio a comemorações de Páscoa, caveirões e policiais invadiram uma escola na Maré violando o território escolar que é lugar de produção de vida, de subjetividades, de sentidos de existência, de construção de um comum possível.

À escola tem faltado escola: falta prédio, faltam cadeiras e carteiras e equipamentos de variados tipos, faltam professores e trabalhadores da educação, falta alimentação de qualidade que alimenta o corpo, compartilha afetos e culturas e produz encontros. Falta, também, respeito a seus espaços e tempos, seja por agentes que operam em nome da segurança pública, seja por ações de programas que supostamente assegurariam a proteção da escola e de seu público, integrantes de diferentes gerações, seja pela presença de pessoas que, armadas, invadem o território da escola, confrontam as dinâmicas sociais e as culturas que só no seu interior são cotidianamente construídas e reproduzidas.

Mas, apesar de todas as ausências, precariedades e ataques, a escola é um espaço singular de encontro, de trocas, de permuta de saberes, de transmissão de conhecimentos, de vivências e experiências socioculturais. Temos que nos colocar diante dela e assumir a defesa radical de sua existência como lugar de vida, de produção de alegrias e de curiosidades sobre o mundo e sobre a vida. A escola é o lugar onde os sujeitos podem exercitar a reflexão sobre si, sobre o seu estar no mundo, sobre a dimensão do encontro e sobre o exercício do dissenso; ela é o território da produção das amizades, das relações afetivas, com os colegas, com o outro; ela é um local de acolhimento das múltiplas formas de ser e estar no mundo, de reconhecimentos mútuos, um espaço de produção de sentidos éticos e estéticos, da construção da autonomia mediada pela presença e pelas formas de ser dos iguais e dos diferentes.

Essa escola do mundo precisa ser ocupada com conhecimento sistematizado, cultura (incluindo a popular), relações respeitosas, debates, afetos, divisão generosa de tarefas, responsabilidades e decisões, modos efetivos de participação democrática. Ela precisa ser financiada com verba suficiente para garantir instalações confortáveis e lúdicas necessárias ao pleno desenvolvimento das crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos que a frequentam, e salários e condições dignas para os profissionais que nela trabalham. Ela também precisa estar equipada com quadras de esportes, bibliotecas, materiais didáticos e conexões com redes de internet que apoiem aprendizagens amplas, variadas e profundas. A escola brasileira precisa estar financiada, equipada e ocupada, de maneira que, sendo acessível a seus usuários, seja também capaz de estabelecer laços fortes, duradouros e produtivos para a sociedade a quem se destina.

A escola – pública e privada, do campo e da cidade, da Educação Infantil ao Ensino Superior, para crianças, jovens, adultos e idosos, pessoas com deficiência, altas habilidades, superdotação, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgênero, intersexo, assexual e mais – precisa ser por nós protegida e defendida como ela é: lugar de liberdade e proteção, de criação e produção, de exercício democrático no convívio com a diferença.

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro cerra fileiras em defesa e proteção à escola brasileira.