Há dez anos, projeto Letra Jovem da Uerj alfabetiza crianças, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social

26/04/202417:01

Diretoria de Comunicação da Uerj

Prestes a completar dez anos, um projeto de extensão da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) vem mudando a realidade de pessoas em situação de vulnerabilidade social. O Letra Jovem, uma iniciativa da Faculdade de Formação de Professores (FFP), comemora o marco de mais de mil crianças, jovens e adultos atendidos com aulas de língua portuguesa, desempenhando um papel significativo na inclusão e no resgate da cidadania dos participantes.

O projeto se afina com o compromisso representado pelo Dia Mundial da Educação, comemorado em 28 de abril. Instituída há 24 anos por líderes de 164 países durante o Fórum Mundial de Educação, a data marca o dever assumido por essas nações para o desenvolvimento educacional até 2030. O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para cumprir a meta: segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) Educação de 2023, 9,6 milhões de jovens, entre 15 e 29 anos, estão sem estudar nem trabalhar no país.

O Letra Jovem atua desde 2014 para mudar essa realidade. As primeiras experiências do projeto começaram a ser desenvolvidas como parte dos programas de inclusão social do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). Hoje em dia, toda semana, jovens em situação de vulnerabilidade e risco social, egressos do sistema prisional ou que cumprem medidas socioeducativas, recebem aulas que vão desde a alfabetização até a interpretação de textos e literatura. Para alguns deles, a participação nas oficinas é obrigatória e funciona como requisito para atuar em projetos do Tribunal.

A atividade é realizada a partir dos círculos de cultura, uma metodologia freireana, em que os participantes se reúnem para pensar temas que influenciam suas vidas. A partir deles, iniciam o trabalho com a linguagem, a fim de desenvolver a leitura e a produção e interpretação textual. “Na primeira aula de cada semestre levantamos os assuntos e escolhemos com eles os temas que querem discutir”, explica Márcia Lisboa, professora da FFP e coordenadora do Letra Jovem.

Jovens recebem aulas que vão desde a alfabetização até a interpretação de textos e literatura

Inserção profissional

Para o Tribunal de Justiça, a parceria com a Uerj tem um papel fundamental ao proporcionar a inserção profissional dos jovens que estiveram em conflito com a lei, contribuindo assim para a inclusão social. “O projeto tem o papel primordial de incentivar a educação, expandir os conhecimentos, aprimorar as habilidades técnicas e, principalmente, demonstrar a esses participantes que a escolaridade é uma ferramenta de ascensão social”, ressalta Andrea Cristhina Vaz, diretora do Departamento de Acesso à Justiça da Secretaria-Geral de Sustentabilidade e Responsabilidade Social do TJRJ.

A partir de 2016, o Letra Jovem também passou a atuar em um Centro Integrado de Educação Pública (Ciep), que fica próximo à FFP, o Ciep 250, no município fluminense de São Gonçalo. O trabalho começou por uma demanda da própria escola e hoje conta com uma equipe de formadores composta por professoras e estudantes bolsistas da Uerj. Por lá, o Letra Jovem oferece letramentos literários e alfabetização para crianças do primeiro ao quinto ano, duas vezes por semana. Por meio de um financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) foi possível revitalizar o espaço, criando um laboratório digital com mais de dez computadores, além de adequar a biblioteca e oferecer material suficiente para as atividades com os alunos.

Direito à aprendizagem

Em uma década, o Letra Jovem já passou pela vida de 800 pessoas só no TJRJ e contribui para a educação de mais de 300 crianças semanalmente no Ciep. O projeto impacta não só a vida dos jovens como também dos educadores. “Aprendemos a aprender, sempre. Temos que pensar como vamos intervir respeitando o que esse sujeito conhece, mas também dar a ele a garantia de direitos, da aprendizagem”, compartilha Marcia Lisbôa.

Para a coordenadora do projeto, o Letra Jovem busca a horizontalização e a amorosidade entre professor e aluno, a partir da leitura do mundo que cada um traz, indo contra a hierarquização de conhecimento. “Partindo dos conhecimentos deles, trabalhamos no sentido da esperança, de pensar num outro mundo possível, na transformação social”, conclui.

Em 2019, a TV Uerj, com apoio financeiro do Canal Futura, produziu o documentário “Todas as Línguas”, que conta a história de jovens que fizeram da língua portuguesa um caminho para a inclusão, por meio do projeto Letra Jovem. A produção está disponível no canal da TV Uerj no YouTube.