‘Tietasaura’: pesquisadoras da Uerj identificam nova espécie de dinossauro encontrada no Recôncavo Baiano

08/05/202417:32

Diretoria de Comunicação da Uerj
Ilustração: Thales Nascimento / Marcio Cukierman

 

Um estudo liderado por pesquisadoras do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) constatou a existência de uma nova espécie de dinossauro que habitou o Recôncavo Baiano, região geográfica que abrange diversos municípios do entorno da Baía de Todos os Santos. O artigo “Reassessment of historical fossil findings from Bahia State reveals a diversified dinosaur fauna in the Lower Cretaceous of South America” (“Reavaliação das descobertas históricas de fósseis no Estado da Bahia revela uma fauna diversificada de dinossauros no Cretáceo Inferior da América do Sul”, em tradução oficial), publicado na revista científica Historical Biology, de circulação internacional, apresenta o espécime Tietasaura derbyiana e relata a descoberta dos primeiros ossos de dinossauros na América do Sul.

A paleontóloga Kamila Bandeira

Conduzida pela cientista Kamila Bandeira, sob orientação da professora Valéria Gallo, ambas do Laboratório de Sistemática e Biogeografia do Departamento de Zoologia do Ibrag-Uerj, a pesquisa traz novas visões sobre o período Pré-Barremiano, de cerca de 130 milhões de anos atrás. “A ossada encontrada é a primeira prova nominal da existência de uma espécie pertencente ao grupo dos ornitísquios, uma ordem de dinossauros herbívoros. Antes só tínhamos pegadas, ou seja, registros indiretos da passagem desses animais em nosso país”, afirma Kamila.

Nome homenageia um escritor e um geólogo

A descoberta ocorreu a partir da análise de fósseis coletados entre 1859 e 1906 na Bacia do Recôncavo, no Nordeste do Brasil. A equipe de paleontólogos observou registros e imagens de materiais encontrados recentemente no Museu de História Natural de Londres e identificou características que comprovavam a existência da nova espécie. “Até a publicação do artigo, os elementos eram considerados perdidos e descritos no catálogo como réplicas, em razão da época de sua obtenção”, detalha a cientista.

Além da referência ao romance “Tieta do Agreste”, do escritor baiano Jorge Amado, a Tietasaura derbyiana também traz em seu nome uma homenagem ao geólogo e naturalista Orville A. Derby, fundador do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil. Nascido nos Estados Unidos e naturalizado brasileiro, Derby foi um dos pioneiros da paleontologia e um fomentador das geociências no país.

Metade distal do fêmur esquerdo da Tietasaura derbyiana.                 Escala = 100 mm

De acordo com a pesquisadora, o espécime foi identificado a partir do fêmur esquerdo do animal, única parte preservada encontrada pela equipe. Entre suas características, estão seu pequeno porte, de cerca de dois metros de comprimento, o focinho em forma de bico e a estrutura da pélvis que se assemelha à das aves. “Não sabemos se já era um completo adulto ou se era um juvenil ainda em fase de crescimento, porque, para isso, precisamos fazer uma análise mais refinada, como um corte histológico ou uma tomografia”, ressalta.

Próximos passos

Realizado com participação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Estácio do Amazonas e do Museu de Ciências da Terra, o estudo agora prevê a retomada das expedições à Bahia, nas localidades do Vale São Francisco e de Feira de Santana. “Este estudo visa incentivar os paleontólogos brasileiros a realizarem mais trabalhos de campo na Bacia do Recôncavo, que preservou algumas das primeiras faunas do Cretáceo na América do Sul, oferecendo ainda potencial para novas e importantes descobertas”, reforça a professora Valéria Gallo.

Para Kamila, o trabalho, que contou com suporte da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), é uma forma de exibir o retorno do investimento em ciência para a população. “Após todas as ondas de fake news e desinformação, é importante mostrar como as verbas são utilizadas. Esse apoio nos ajuda a descobrir novas espécies, realizar novos campos e fazer análises sobre questões que precisamos elucidar”, finaliza.