Diretoria de Comunicação da Uerj
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) concedeu, nesta segunda-feira (29/4), em solenidade na Capela Ecumênica do campus Maracanã, o título de Doutor Honoris Causa, o mais importante conferido pela instituição, ao geógrafo e professor Pedro Geiger, 101 anos. A honraria é atribuída a personalidade eminente nacional ou estrangeira que tenha se destacado por sua contribuição à cultura, à educação ou à humanidade.
Em seu discurso, lido pela filha mais velha, Noni Geiger, o homenageado ressaltou o papel das instituições públicas no incentivo à pesquisa. “Destaco a importância das instituições públicas, como a Uerj e o IBGE, no Estado democrático, em que a pesquisa é permanentemente estimulada e fomentada em um caráter contemporâneo”, afirmou Geiger.
As características pessoais e profissionais do geógrafo foram salientadas por Mônica Machado, professora do Instituto de Geografia da Uerj (Igeog), ex-aluna e amiga de Geiger. “Este é um geógrafo arrebatado pelo Brasil, não tendo nunca abandonado o interesse e a lealdade pelo país. Embora brasileiro, e sobretudo carioca, sua mente sempre foi internacional, aberta, cosmopolita e global. Muito contribuiu para a ciência geográfica e para a interpretação do Brasil e, com maestria, foi, durante toda a sua vida, capaz de juntar empírica e filosoficamente ciência e arte”, destacou.
O presidente do IBGE, Márcio Pochman, lembrou o trabalho desenvolvido por Geiger no Instituto durante 42 anos. “O IBGE é uma das poucas instituições do mundo que contempla a geografia junto com a estatística e o professor Pedro Geiger foi um dos elementos fundamentais para que houvesse essa convergência”, sublinhou. “O professor, com o seu esforço, compromisso, estudo e dedicação, permitiu mostrar uma fase importantíssima que o país transitava, de uma sociedade agrária muito primitiva, cuja expectativa média de vida não ultrapassava 34 anos, para um país urbano industrial”, completou Pochman.
A reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, reafirmou seu orgulho em cumprir o papel acadêmico e político da Universidade ao trazer para o quadro de doutores honoris causa da instituição o renomado geógrafo brasileiro. E acrescentou um ponto em particular. “Para mim, é uma alegria enorme porque a minha mãe era professora de geografia e eu cresci apreciando usar os mapas e valorizando a importância dessa disciplina na organização da sociedade e no desenvolvimento humano”, disse. “A trajetória de Geiger inspirou e continua inspirando gerações de geógrafos. Temos muito a agradecer pela contribuição que vem dando à nossa Universidade”, concluiu.
Após a cerimônia, o livro “Redes sociais do urbano brasileiro”, de autoria do homenageado e editado pelo IBGE, publicado originalmente em 1963 com o título “Evolução da rede urbana brasileira”, foi relançado no salão de eventos da Capela Ecumênica da Uerj. O geógrafo autografou exemplares distribuídos a amigos e convidados.
Uma carreira dedicada à renovação de conceitos
Autor de mais de 70 títulos entre livros e artigos em revistas especializadas, Pedro Pinchas Geiger é uma referência em Ciências Geográficas. Em uma expedição ao Jalapão, desenvolveu um novo conceito de classificação das cidades, a partir de uma hierarquia urbana, considerando a composição social das cidades locais. Uma proposta inédita até aquele momento. Recém-contratado pelo IBGE, Geiger tinha, então, 20 anos.
Em 1967, o geógrafo propõe uma nova e revolucionária divisão do país em três regiões: Amazônia, Nordeste e Centro-Sul. A ideia, que considerava não apenas os aspectos físicos, mas também humanos, históricos e econômicos, proporcionou uma compreensão mais abrangente das relações sociais e políticas que compõe o território brasileiro.
Aposentadoria e novo começo
Geiger se aposentou em 1984, pelo IBGE. Mas não se afastou da geografia. Aceitou o convite de amigos da Universidade de São Paulo (USP) e deu início à sua carreira como professor, no Programa de Pós-graduação em Geografia.
Em 2010, com 87 anos, Geiger ingressou como professor visitante do Departamento de geografia da Uerj, onde lecionou na graduação e no Programa de Pós-graduação, desenvolvendo pesquisas sobre o Brasil e contribuindo para a sua internacionalização. Ainda hoje integra o grupo de estudos interdisciplinar e interinstitucional GeoBrasil, certificado pela Uerj.