Árvores retiradas do campus Maracanã por risco de queda serão substituídas por espécies do projeto paisagístico original

06/07/202218:11

Diretoria de Comunicação da Uerj

 

Tons de rosa já começaram a colorir o campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) no Maracanã, com o início da florada de um dos mais de 50 ipês do local. Mas quem entra pelo portão da Rua São Francisco Xavier quer saber: e o verde que estava aqui? As cinco árvores que formavam a alameda no caminho para o pavilhão João Lyra Filho foram sendo cortadas nos últimos meses, por questão de segurança. Fazem falta, certamente! Mas a boa notícia é que serão substituídas por mudas de espécies previstas no projeto paisagístico original, planejado na década de 70 por Fernando Chacel e Luiz Emydio de Mello Filho, com a participação do icônico Burle Marx.

Em vistoria realizada em setembro do ano passado, a Defesa Civil do Rio de Janeiro constatou que a vegetação, das espécies Terminalia catappa, Albizia lebbeck e Hibiscus tiliaceus, com uma altura média de 11 metros, corria risco de cair. “Vale ressaltar a inclinação acentuada das árvores, aparentando tombamento gradual, e que as espécies têm madeira com baixa resistência mecânica, podendo ocorrer acidentes graves pela sua queda, principalmente durante intempéries”, descreveu o laudo, acrescentando que um algodoeiro da praia havia tombado pouco tempo antes no local, situação comum para exemplares daquele porte em dias de ventos fortes.

O documento também mencionou que as raízes levantaram e soltaram as pedras portuguesas do piso da calçada, oferecendo risco iminente aos pedestres. E reforçou que a árvore mais próxima ao portão, com cerca de 15 metros, precisava ser removida imediatamente, devido aos abalos sofridos pela ventania do dia 22 de setembro de 2021.

A substituição

Muda de pau-rei

De acordo com Marcelo Lima, técnico ambiental a serviço da Prefeitura dos Campi, os oito canteiros da entrada terão replantio em breve. “Estamos em contato frequente com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), em busca das mudas. Esperamos que, até o fim do mês, cheguem as primeiras”, afirma.  

Mas não será qualquer muda! Em parceria com o Herbarium Bradeanum, herbário da Uerj que reúne 120 mil registros de plantas, a Prefeitura procura resgatar o paisagismo original. Para seguir o projeto, segundo Sebastião José da Silva Neto, curador da coleção e professor do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag), a espécie sugerida é a Pterygota brasiliensis, conhecida como pau-rei. “À medida que cada árvore precise ser retirada, será substituída por outra, prevista no planejamento inicial”.

Estacionamento florido

Professor Sebastião Neto
Pesquisador David de Lucena
Mudas prontas para o plantio no campus Maracanã

A ideia do resgate surgiu a partir da monografia de um aluno de Ciências Biológicas da Uerj. David de Lucena Filho, hoje mestrando no Ibrag, analisou todas as árvores do campus, para identificar se eram espécies de origem nativa (naturais do ecossistema brasileiro) ou de origem exótica (de ecossistemas estrangeiros). E descobriu grandes mudanças em relação ao passado. 

“Para minha surpresa, quando comparei o projeto com o que havia no local em 2018, a diferença era significativa. Além da redução de 35% do número total de árvores, houve também intensa descaracterização. Muitas espécies originais nativas do Brasil foram substituídas por outras, principalmente de origem exótica, como a amendoeira e a bauínia-blaqueana (unha-de-vaca)”, revela.

Segundo o levantamento do biólogo, a parte da frente da Uerj teria 145 ipês Tabebuia rosa. Hoje são 54 ipês, de quatro espécies. Na parte externa, eram 173 sibipirunas. Atualmente, temos apenas cinco no passeio.

“Fico imaginando como o campus foi idealizado pelos paisagistas do projeto. O destaque seria o estacionamento todo florido, como um tapete rosa/roxo, e um cinturão de árvores com flores amarelas contornando a Uerj”, reflete o pesquisador.  

Equipe de jardinagem da Prefeitura dos Campi

O sonho de voltar no tempo pode começar a se tornar realidade, pelo trabalho conjunto da equipe do professor Sebastião com o setor de jardinagem da Prefeitura dos Campi. Há previsão de plantio de 45 mudas de ipê. Além disso, também começaram a ser plantadas espécies ameaçadas de extinção. No fim de junho, o solo da Uerj ganhou mudas de palmito-juçara e garapa.

Fotos: Plantio – Patrícia da Rosa e Thiago Meirelles (Herbarium Bradeanum / Ibrag);
Muda de pau-rei – Marina Mello (ProMudasRio).