Palestra do historiador britânico Peter Burke sobre Gilberto Freyre foi destaque em conferência internacional na Uerj

24/09/202516:29

Diretoria de Comunicação da Uerj
“Transplantando ideias na Europa: o caso Gilberto Freyre” foi o título da palestra de Peter Burke

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) recebeu, no último dia 17 de setembro, no campus Maracanã, o historiador britânico Peter Burke, para a palestra “Transplanting ideas in Europe: the case of Gilberto Freyre” (“Transplantando ideias na Europa: o caso Gilberto Freyre”). O encontro marcou o primeiro dia da conferência internacional Synchronizing History: the transplantation of American Ideas in Europe (Sincronizando a História: a transplantação de ideias americanas na Europa), organizado pelo Instituto de Artes (Iart).

Durante três dias, o evento reuniu pesquisadores de universidades do Brasil, Europa e América Latina em mesas-redondas, palestras e apresentações, com o objetivo de debater a circulação de ideias, culturas e narrativas históricas pelo mundo, e repensar as fronteiras do conhecimento histórico.

Palestra atraiu professores, estudantes e pesquisadores

A plateia, formada por professores, estudantes e pesquisadores, acompanhou atentamente a reflexão de Burke sobre o deslocamento de ideias entre culturas, tendo como fio condutor a obra do escritor e ensaísta brasileiro Gilberto Freyre, recebida de formas diferentes em diversos países. Com uma trajetória marcada por obras fundamentais como “A escrita da História” e “Cultura popular na Idade Moderna”, Burke dedicou grande parte de sua carreira ao estudo das trocas culturais e intelectuais na formação do mundo moderno.

A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa (PR2) da Uerj, Elisabeth Macedo, recebeu os participantes em nome da Reitoria. “Eu quero muito agradecer a possibilidade de a Universidade sediar essa conferência, que conta com colegas da Itália, Inglaterra, Guiné-Bissau, Espanha, Colômbia, França e Estados Unidos, além de diferentes universidades brasileiras, para discutir as relações entre América e Europa, pensando as relações culturais numa perspectiva muito mais horizontal e a possibilidade de que essa discussão se estabeleça em perspectivas transdisciplinares, permitindo uma análise transversal das trocas culturais entre as duas regiões do mundo”, frisou Elisabeth.

Transplantando Gilberto Freyre

Burke iniciou a palestra afirmando que o conceito de “transplantar” se refere também a ideias. “Desde o século XVI, termos como ‘mulato’ e ‘mestiço’ foram exportados das Américas e importados pela Europa, integrando debates jurídicos e sociais”, afirmou o historiador. Ele destacou que os conceitos de miscigenação e hibridismo cultural, amplamente explorados por Freyre no livro “Casa grande & senzala”, não foram defendidos exclusivamente pelo brasileiro. “Havia um grande coro intelectual, de teóricos latino-americanos e caribenhos, que transformou a mistura de raças e culturas de ‘um problema’, a fonte de identidade nacional, no México, em Cuba, na Martinica e, obviamente, também aqui no Brasil”, apontou.

Tamara Quirico, Gulnar Azevedo, Peter Burke e Evelyne Azevedo

Segundo a diretora do Iart, Tamara Quirico, a ideia dessa Conferência realizada na Uerj surgiu após a primeira edição do evento, ocorrida na cidade de Palermo, na Itália, em 2024. Naquela ocasião, os organizadores pensaram em discutir a influência da Europa na América – sobre como as ideias europeias foram recebidas no continente americano. “Pensamos em inverter essa relação, essa visão tradicional de que o Velho Mundo é o grande produtor de pensamento e de que seríamos somente receptores passivos dessa produção”, explicou Tamara. “Afinal, o que acontecia nas Américas – e ainda acontece – também reverbera e influencia de algum modo o Velho Mundo”, completou.

Para a organizadora do evento, professora Evelyne Azevedo, do Instituto de Artes da Uerj, o Congresso foi resultado de um esforço coletivo. “Eu e a professora Tamara organizamos com o apoio de pesquisadores das Universidades de Palermo, Roma e Milano. Tivemos também o apoio fundamental da Reitoria da Uerj para viabilizar a vinda do Professor Burke”, reconheceu Evelyne. “Nossa ideia é consolidar, a partir dessas edições, uma rede de pesquisadores voltada para pensar a História e a História da Arte globais como teorias fundamentais para a decolonização da pesquisa acadêmica”, definiu.

Evelyne enfatizou que a presença de Peter Burke foi essencial. “É um dos principais historiadores ainda atuantes na contemporaneidade a discutir essas relações transculturais, a discutir a ‘tradução’ que ocorre a partir do contato entre culturas diversas, e as reinterpretações culturais que acontecem a partir desses processos”, frisou.

“Para nós, foi uma grande honra recebê-lo na Uerj como convidado do Instituto de Artes, e tê-lo conosco, tanto no Comitê Científico do Congresso, como conferencista principal, ajudando a ajustar as propostas para o evento que pudemos colocar em prática. Sua conferência sobre Gilberto Freyre, inclusive, mostrou de forma bastante clara como o pensamento de um sociólogo brasileiro foi recebido e influenciou pesquisadores de diversas outras áreas do conhecimento na Europa”, concluiu.

Fotos: George Magaraia