No Agosto Dourado, pesquisadores da Uerj lançam livro sobre papel da amamentação no desenvolvimento humano

30/08/202319:27

Diretoria de Comunicação da Uerj

 

Manter hábitos saudáveis durante a amamentação pode evitar uma série de doenças ao longo do desenvolvimento da criança, entre elas diabetes, problemas cardiovasculares e obesidade. É o que revelam pesquisadores do Laboratório de Fisiologia Endócrina (LFE) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A partir de estudos experimentais, eles chegaram à conclusão que, para garantir o bem-estar dos filhos no futuro, é preciso que as mães não apenas exerçam a amamentação exclusiva nos seis primeiros meses de vida do bebê, mas tenham atenção à própria saúde nesse período.

“Os estudos demonstram que o aleitamento materno parece ser o sinalizador mais importante para problemas da vida adulta. Tudo a que a mãe é exposta durante a amamentação – emoções, alimentação, substâncias tóxicas – é transmitido pelo leite para a criança”, afirma Egberto Gaspar de Moura, professor de Fisiologia e Fisiopatologia Endócrina do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag) da Uerj,  que está lançando, em parceria com a professora Patrícia Lisboa, do Departamento de Ciências Fisiológicas, o livro “A amamentação molda o resto da nossa vida: doenças que surgem com o desenvolvimento” (Ed. Becalete).

A obra, financiada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), chega às livrarias nos formatos impresso e e-book no mês dedicado ao incentivo do aleitamento materno, conhecido como “Agosto Dourado”, quando também se celebra o Dia Mundial da Amamentação, em 1º de agosto.

Englobando 28 capítulos elaborados pelos dois organizadores e por nove colaboradores, todos pesquisadores do LFE, o livro reúne os dados científicos mais atuais disponíveis sobre lactação, que demonstram sua importância para o desenvolvimento das crianças. Entre os estudos, há experimentos sobre os efeitos do tabagismo, do consumo de alimentos ultraprocessados e da ingestão de microplásticos pelas mães durante a lactação.

Os efeitos da exposição a substâncias tóxicas

A partir da esquerda, Rosiane, Patrícia, Egberto e Luana, autoras e organizadores do livro

De acordo com a professora Patrícia Lisboa, é comum as mães manterem hábitos saudáveis durante a gestação e, após o parto, retomarem seu estilo de vida anterior, ignorando os riscos para o bebê durante a lactação. “Muitas delas param de fumar durante os nove meses e retomam esse hábito depois da chegada do bebê, acreditando que, se fumarem longe dele, não será prejudicado. Mas mesmo que ela fume muitas horas antes ou após amamentar, os componentes do cigarro passam para o sangue e o leite, afetando a criança”, alerta.

Os pesquisadores ressaltam que até mesmo substâncias supostamente inofensivas podem ser prejudiciais à saúde do bebê durante o aleitamento materno. De acordo com uma das autoras, a nutricionista e professora Luana Souza, que também integra o laboratório, o consumo de cafeína no período é contraindicado. “Como o bebê ainda tem uma imaturidade na metabolização da substância, mesmo em dose baixa, a cafeína vai ficar mais tempo na circulação e causar possíveis alterações de metabolismo lipídico, predispondo aquela criança a desenvolver uma dislipidemia na vida adulta”, diz.

Nem sempre a exposição a elementos tóxicos é uma escolha consciente da mãe. Um exemplo é o consumo dos chamados “disruptores endócrinos”, substâncias químicas naturais ou sintéticas dispersas no ambiente, como os agrotóxicos e os microplásticos, que também são transmitidas na amamentação. “Essas substâncias podem afetar o sistema endócrino da mãe e do filho e alterar a composição do leite materno, aumentando as chances de obesidade e de doenças associadas a essa condição”, aponta a autora Rosiane Miranda, bióloga e professora do LFE.

A conclusão do estudo reforça a importância de se combater a contaminação ambiental. Esse é, segundo Gaspar de Moura, um dos méritos do livro, que demonstra a relevância das pesquisas contidas na obra para a sociedade. “Partindo dessas descobertas, é possível traçar políticas públicas, estratégias de prevenção e de tratamento para o resto da vida”, sublinha.

Banco de leite do Hupe aceita doadoras

Considerado um alimento padrão ouro, o leite materno é insubstituível para os bebês no primeiro semestre de vida, como recomendam a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde. As mães que por algum motivo estão impossibilitadas de amamentar podem recorrer aos bancos de leite, como o do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) da Uerj. Criado em 2006, o Banco de Leite Humano (BLH) integra o Núcleo Perinatal do Hupe, maternidade de alto risco materno fetal e credenciada como Hospital Amigo da Criança por suas ações de promoção, apoio e incentivo ao aleitamento materno.

“O Brasil tem a maior e mais complexa rede de bancos de leite humano do mundo, sendo referência internacional por utilizar estratégias que aliam baixo custo e alta qualidade e tecnologia”, ressalta Abilene Gouvêa, coordenadora do BLH e chefe da unidade de Obstetrícia da Uerj. “O nosso banco de leite faz parte da Rede Ibero-Americana e tem contribuído para a redução da morbimortalidade infantil, além da melhoria da qualidade de vida de muitas crianças amamentadas”, acrescenta.

O leite doado passa por um processo de pasteurização para segurança dos bebês

O serviço proporciona ações de coleta, processamento e distribuição de leite humano para bebês prematuros ou de baixo peso da UTI Neonatal do hospital, que não podem ser alimentados pelas próprias mães. Além disso, oferece consultas de apoio e orientação para mães com dificuldade no manejo do aleitamento que tiveram seus bebês na rede privada ou em outros hospitais.

Para atender à demanda, o banco aceita doações de leite de mulheres que oferecem seu excesso para ajudar outras mães com dificuldades ou aquelas que estão com bebês internados. “Toda mulher que amamenta é uma possível doadora de leite materno, basta estar saudável e não fazer uso de nenhum medicamento que interfira no processo”, assegura Abilene.

O Ministério da Saúde contraindica o aleitamento cruzado – quando a mãe amamenta outro recém-nascido que não seja o seu – por conta da transmissão de doenças. Por isso, o banco realiza um processo de pasteurização do leite doado e checagem de exames da doadora para garantir a segurança dos bebês que recebem o aleitamento.

Para fazer a doação, basta entrar em contato com o banco pelo telefone 2868-8208 ou com o Banco de Leite Humano mais próximo e realizar triagem e cadastro, quando serão verificados os exames pré ou pós-natal. O profissional orienta quanto à ordenha e ao armazenamento, oferece o material para coleta e agenda o dia e a hora em que o banco poderá buscar o leite na residência da voluntária.