Formação de psicoterapeutas na Uerj oferece oportunidades de atendimento para a comunidade

18/10/202318:32

Diretoria de Comunicação da Uerj

A saúde mental é um direito universal. Esta foi a temática do Dia Mundial da Saúde de 2023, celebrado em outubro. Mas, de acordo com a Organização das Nações Unidas, três de cada quatro pessoas afetadas recebem tratamento inadequado ou até nenhum cuidado. Na contramão dessa realidade avassaladora, iniciativas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) têm buscado ampliar a oferta de atendimento psicológico.  

O acolhimento como espaço de aprendizagem

De janeiro a agosto deste ano, o Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) prestou 5.882 atendimentos individuais ou em grupo, para alunos, funcionários e sociedade em geral. Com a missão de proporcionar a prática profissional aos graduandos do Instituto de Psicologia (IP), uma equipe de professores orienta o trabalho de quase 400 estagiários, que atuam em clínica e outras modalidades. “Além disso, temos duas residências em serviços de saúde da Uerj, capacitando novos profissionais, por meio da oferta de serviços”, explica Ana Maria Jacó Vilela, diretora do IP.

Para os interessados em psicoterapia no SPA, o acolhimento remoto é a principal porta de entrada. Trata-se de uma modalidade breve e focal que visa identificar as principais demandas para os atendimentos sem, contudo, garantir vaga para o acompanhamento psicológico contínuo. São ofertadas até três sessões online, exclusivas para moradores do Rio de Janeiro. A última rodada de inscrições deste ano será aberta no dia 26 de outubro, pontualmente às 10h.

Já o Laboratório de Fenomenologia e Estudos em Psicologia Existencial, projeto de extensão ligado ao Programa Uerj pela Vida, é voltado à prevenção do suicídio, disponibilizando atendimentos mediante triagem dos formulários preenchidos online. Há também a possibilidade de acompanhamento psicoterápico pontual para pessoas enlutadas ou impactadas por uma situação de suicídio.

“Nossos programas de pós-graduação produzem e divulgam pesquisas que auxiliam na melhoria da prestação de serviços pelos psicólogos e por outros agentes de saúde à sociedade em geral. Também realizamos projetos de extensão tanto na Uerj quanto fora, como no Degase e na Favela da Maré”, completa a diretora.

Os desafios psicológicos das minorias

A psicoterapia oferece um espaço de escuta, autoconhecimento e crescimento para todos que se abrem a esse processo. No entanto, os desafios que alguns grupos minoritários enfrentam, como o preconceito, a discriminação e o racismo estrutural, causam impactos específicos em suas vidas. Para atender a esse público, diversas iniciativas da Uerj proveem assistência especializada.

Em 2019, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) registrou quase 7 milhões de brasileiros com deficiência visual. Considerando as barreiras enfrentadas no acesso à educação, ao emprego e à saúde, o Laboratório afeTAR criou um grupo terapêutico com reserva de metade das vagas para esse público. A unidade de desenvolvimento tecnológico vinculada ao Instituto de Psicologia realiza a ação com o apoio da Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes). Esse é um dos vários grupos da Universidade dedicado aos cuidados de saúde específicos para pessoas com deficiência.

Reconhecer que a saúde mental da população negra é impactada pelos efeitos do racismo nos processos de produção de modos de existência foi o ponto de partida teórico para a criação, em 2023, da Clínica Transdisciplinar em Afroperspectiva da Uerj, com atendimentos exclusivos para estudantes negros, pelo SPA.

“Queremos que o paciente não se sinta julgado e que, quando falar de racismo, seja acolhido por uma pessoa que de fato é capaz de compreender essa lógica racial que atravessa as nossas subjetividades, a nossa existência. As pessoas pretas sofrem uma forma de subalternização, uma violência racial institucionalizada numa sociedade estabelecida em lógicas de desigualdade”, explica Débora Franco, coordenadora da Clínica Transdisciplinar e professora da disciplina de Psicologia e Relações Étnico-Raciais da Uerj.

Em poucos dias com formulário de inscrição aberto, mais de 80 estudantes negros manifestaram interesse em ser pacientes na Clínica Transdisciplinar em Afroperspectiva. Atualmente, nove deles são atendidos pela equipe com sete estagiários. As sessões não têm restrição de temática e proporcionam direcionamentos para a autogestão, o empoderamento, a reafricanização e a busca de ampliação das redes de apoio. “Os impactos do racismo na subjetividade podem se apresentar, por exemplo, em comportamentos de baixa autoestima, dificuldade de expressão social ou até ansiedade em função de experimentar uma vida em espaços muito embranquecidos”, completa Débora.

Por enquanto, não há previsão de abertura de novas vagas para a Clínica Transdisciplinar em Afroperspectiva, em virtude do alto número já cadastrado na fila de espera. Entretanto, há projetos para ampliar a oferta com parcerias externas ou terapias em grupo. “Esperamos que, em 2024 e nos anos seguintes, principalmente com a implantação do novo currículo no Instituto de Psicologia, novas abordagens e novos projetos surjam, acrescentando nuances e expertises a esse campo”, afirma a diretora Ana Maria Vilela.

Saúde mental além da psicoterapia

Propiciar assistência, inclusão e acessibilidade aos estudantes, considerando as diferentes necessidades de cada grupo e os desafios para permanência estudantil, são alguns dos objetivos da Pró-reitoria de Políticas e Assistência Estudantis (PR4). Integrando sua estrutura, o Departamento de Acolhida, Saúde Psicossocial e Bem-estar (DASPB) proporciona espaços de amparo para o corpo discente, como o projeto “Chega Mais, Uerj: acolhimento e cuidado para universitários”, com grupo de escuta semanal para acompanhamento das dificuldades dos alunos e direcionamento para setores especializados ou projetos disponíveis.

Neste mês de outubro, a DASPB promoveu também a “IV Mostra de Práticas de Cuidado, Saúde e Bem-estar do Estudante: desafios para a permanência no ensino superior”, com discussões sobre saúde mental, desigualdade de gênero, questões raciais, políticas de apoio a estudantes mães, discursos de ódio nas redes sociais, autismo e inclusão, entre outras temáticas. A gravação do evento está disponível no canal do DASPB no YouTube.