Exposição na Uerj aborda refúgio, exílio e memória das ditaduras na América Latina; visitação vai até 30 de setembro

21/08/202510:55

Diretoria de Comunicação da Uerj
Professora Dirce Solis visita exposição “Memórias encontradas: entre a solidariedade e a perseguição”

Em reflexão sobre os 60 anos do golpe militar, a Uerj, por meio de sua Comissão da Verdade e Memória, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), do Núcleo de Pesquisa Urbana (Cidades), do Núcleo Fala-se e da Coordenadoria de Artes e Oficinas de Criação (Coart), recebe a exposição itinerante “Memórias encontradas: entre a solidariedade e a perseguição”. A mostra apresenta a história de homens e mulheres que buscaram refúgio na embaixada argentina em Santiago, Chile, durante o golpe de Estado ocorrido em 11 de setembro de 1973 contra o presidente chileno Salvador Allende.

Criada em 2023 pela Comisión Provincial por la Memoria da Argentina, já percorreu diversas cidades brasileiras e de outros países, chegando agora à Universidade. Ela remete à década de 1970, período marcado por regimes ditatoriais no Cone Sul (formado por Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai) que resultaram em mortos, desaparecidos, prisões políticas, torturas e exílio massivos. Ao mesmo tempo em que se constata a colaboração entre os militares de diferentes países por meio da Operação Condor, também há a solidariedade dos povos que denunciaram as violências e salvaram vidas.

Para a professora Dirce Solis, presidente da Comissão da Verdade e Memória da Uerj, a proposta vai além da simples exibição de documentos e fotografias. “Buscamos criar um espaço de diálogo e reflexão, combinando diferentes linguagens, que permitam ao público compreender o impacto humano e político da ditadura na América Latina e o seu legado atual”, explica.

O material exposto envolveu a tradução de sete painéis textuais que acompanham as fotos, bem como a produção de oito painéis fotográficos em tamanho natural de brasileiros que estiveram refugiados na Embaixada da Argentina. Dois deles, Daniel José de Carvalho e José Lavecchia, figuram entre os seis sequestrados e assassinados no Massacre de Medianeira, em 1974, cujos corpos até hoje não foram localizados.

Mostra inclui painéis produzidos por coletivos de bordadeiras

A instalação conta também com 12 painéis em acrílico e vinil, produzidos pela artista plástica Fulvia Molina, com fotografias de todos os mortos e desaparecidos brasileiros recenseados pela Comissão Nacional da Verdade. Em diálogo com a obra de Fulvia, o acervo inclui dois painéis produzidos por coletivos de bordadeiras. O primeiro com os nomes dos 434 mortos e desaparecidos durante a ditadura militar brasileira e o segundo com a conclamação “Nunca Mais!”.

O diretor do Departamento Cultural (Decult) da Uerj, Alexandre de Sá, ressalta que a mostra é, sobretudo, um registro jornalístico e fotográfico. “Ela relembra, discute e rememora as questões da ditadura na América Latina, para que isso não se disfarce ou se dilua”, diz. Essa composição de elementos fotográficos, textuais e artísticos constrói uma narrativa que une história, denúncia e memória.

A exposição foi inaugurada, no dia 14 de agosto, com uma mesa-redonda que contou com a presença de Sandra Raggio e Roberto Cipriano, da Comisión por la Memoria da Argentina, e Ana Soffiantini, sobrevivente do centro clandestino de detenção e tortura da Escola de Mecânica da Armada (ESMA), na Argentina. O encontro foi um espaço de diálogo e reflexão sobre memória e direitos humanos.

Atividades e programação

A mostra está aberta para visitação no mezanino da Coart, no Centro Cultural, campus Maracanã, até o dia 30 de setembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h.  A programação também conta com mesas-redondas, rodas de bordado, lançamento do livro “Crianças em Exílio” e o curso de extensão “Argentina: direitos humanos e políticas de memória face à ascensão da extrema-direita”. Também estão previstas exibições de filmes seguidos de debates com diretores e convidados no Auditório Cartola.

28 de agosto

14h – Auditório Cartola (Centro Cultural da Uerj)

Filme “Operação Condor”, de Cleonildo Cruz.

Mesa-redonda, com a presença do diretor.

4 de setembro

17h – Auditório Cartola (Centro Cultural da Uerj)

Filme “Cadê Heleny”, de Esther Vital

Roda de bordado no local da exposição, com o Coletivo Linhas do Rio

9 de setembro

16h – Auditório Cartola (Centro Cultural da Uerj)

Filme: “Repare Bem”, de Maria de Medeiros

Mesa-redonda com a Comissão da Verdade e Memória da Uerj

16 de setembro

16h – Auditório Cartola (Centro Cultural da Uerj)

Filme: “Fico te devendo uma carta sobre o Brasil”, de Carol Benjamin

Mesa-redonda com o Coletivo Filhos e Netos por Verdade, Justiça e Reparação

Terça-feira, 23 de setembro

16h – Auditório Cartola (Centro Cultural da Uerj)

Filme: “Terra dos Índios”, de Zelito Viana

Mesa-redonda: Povos Originários: Memória, Verdade, Justiça e Reparação

30 de setembro

16h – Auditório Cartola (Centro Cultural da Uerj)

Filme: “Auto de Resistência”, de Natasha Neri

Mesa-redonda: Atualidade da Violência de Estado na Democracia

Encerramento da exposição.

Fotos: George Magaraia