Diretoria de Comunicação da Uerj
“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. A frase marcante da intelectual e ativista norte-americana Angela Davis inspirou as discussões da 3ª edição do Seminário A Mulher Negra e suas Expressões na Sociedade, realizado nesta quarta-feira (12), na Capela Ecumênica, campus Maracanã. Promovido pelo Quilombo do Cuidar, projeto de extensão da Faculdade de Enfermagem da Uerj, o evento celebrou antecipadamente o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho. Espaço de reflexão, troca de saberes, representatividade e empoderamento, o encontro reuniu diferentes profissionais que compartilharam suas experiências e debateram o tema “As pressões sociais, o racismo e a saúde mental da mulher negra”.
Na mesa de abertura, a superintendente de Equidade Étnico-racial e de Gênero da Uerj, Patrícia Santos, destacou a importância de aprofundar as discussões sobre a pauta da diversidade e inclusão. “Nossa Universidade ainda precisa debater amplamente o papel das mulheres negras. Quem são elas, estudantes e servidoras, e quais espaços ocupam dentro da instituição? É essencial olhar para suas diferenças e especificidades. Seminários profícuos como este no âmbito da saúde, e outros interdisciplinares que certamente teremos, alimentam a comunidade acadêmica de conhecimentos antirracistas, antissexistas e anti-homofóbicos”, salientou.
Força e leveza
Segundo a professora Roberta Georgia, coordenadora do projeto Quilombo do Cuidar, a pandemia provocou o aumento dos casos de transtorno de saúde mental, especialmente entre mulheres negras, grupo populacional que, historicamente, já enfrenta situações que provocam o adoecimento. “Desde muito novas, nós, mulheres pretas, aprendemos com as mais velhas a cuidar dos outros. Uma sabedoria ancestral transmitida de geração em geração. A medicina popular das plantas, os chás que curam. Aprendemos também os afazeres domésticos e cuidamos das nossas casas, dos nossos patrões, dos próprios filhos e dos filhos dos outros, por vezes à custa de um trabalho emocional que nos sobrecarrega mentalmente”, explicou.
“O desemprego, a falta de dinheiro, de perspectiva, a exposição ao assédio, à violência e outras inquietações nos deixam cansadas. Mas temos que seguir firmes, porque tantas pessoas dependem de nós, do sustento, do teto, do pão que provemos”, acrescenta. Para Roberta, mesmo em um contexto de ausências materiais e subjetivas, a mulher negra pode reivindicar o direito ao autocuidado. “O tempo todo somos tão incentivadas a sempre demonstrar força que, às vezes, nem percebemos que a leveza também é fundamental. Leveza é se olhar no espelho e dizer: ‘pretinha, você é maravilhosa!’”, defendeu.
Ao final de sua exposição, a professora citou um trecho do livro “Olhares negros: raça e representação”, de bell hooks, que diz: “Amar a negritude como resistência política transforma nossa maneira de olhar e ser e, assim, cria as condições necessárias para nos movermos contra as forças de dominação e morte e reivindicar a vida negra”. “Amar a negritude é amar tudo que está em você, a cor da pele, sua boca, nariz, cabelo. Com muito afeto, precisamos valorizar em nós mesmas e umas com as outras o que temos de lindo”, finalizou.
Além da mesa-redonda, o público assistiu à entrega do Prêmio Tereza de Benguela à Ana Gilda Soares, vice-presidente da Associação dos Cuidadores da Pessoa Idosa, da Saúde Mental e com Deficiência do Estado do Rio de Janeiro (Acierj). Militante engajada na luta antimanicomial, ela também é assistente social do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Franco Basaglia, em Botafogo. A homenagem concedida leva o nome da líder quilombola do século XVIII e busca dar visibilidade à trajetória de vida de mulheres negras que atuam cotidianamente no enfrentamento das discriminações.
Fotos: George Magaraia