Diretoria de Comunicação da Uerj

Em meio às linhas retas da arquitetura brutalista dos imensos prédios à sua volta, um corpo sinuoso se impõe com delicadeza e impacto visual. Acolhida, a escultura ressurge iluminada, contrastando com o concreto que domina o espaço. Após passar por um processo de restauração, a obra “Negra”, doada à Uerj pelo autor Angelo Venosa, em 2019, foi inaugurada nesta quinta-feira (15), para exposição permanente no campus Maracanã, com a presença da viúva do artista, Sara Grossman, e os filhos Bárbara e Daniel Venosa, além de representantes e servidores de vários departamentos envolvidos com a instalação da escultura.
Na solenidade, a reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, destacou o significado da exposição da obra em uma Universidade conhecida por ser popular e inclusiva. “A presença dessa escultura na Uerj demonstra que estamos preocupados em levar o conhecimento e o pensamento crítico para a comunidade acadêmica, mas também em continuar, sempre, valorizando a cultura e a arte”, enfatizou.
A pró-reitora de Extensão e Cultura (PR3) da Uerj, Ana Maria Santiago, ratificou que a instalação de “Negra” no campus Maracanã marca a retomada de uma antiga proposta. “Com essa inauguração, retomamos aquele projeto de trazer para este campus, e também para os outros campi da Uerj, a possibilidade de instalar obras artísticas, esculturas. Porque não existe formação qualificada, ensino, pesquisa e extensão, se não tivermos cultura, se não tivermos sensibilidade e a possibilidade de olhar o mundo com outros sentidos, que não seja só o que tanto prezamos na academia, que é a racionalidade”, reforçou.

Pesquisadora, professora e artista visual, a filha do artista, Bárbara Venosa, frisou que cultura e educação são dois pilares sociais fundamentais. “É uma alegria, uma emoção muito grande estar num momento como este, tão imbuído de significado. Meu pai certamente estaria superemocionado. Uma escultura cedida e acolhida numa instituição como a Uerj, que é um local de referência de produção de conhecimento no país, diz muito sobre essa relação dialógica entre cultura e educação. Tenho que agradecer demais à Universidade, a todos os outros que estiveram envolvidos nesse processo, aos que também vão interagir e se envolver nessa construção de interfaces, de diálogos e pontes”, finalizou.
Um museu vivo
Ex-colega de turma de Venosa, o diretor do Departamento Cultural (Decult) da Uerj, Alexandre Sá, descreveu a experiência do convívio com o artista. “Ainda hoje são raros os artistas que têm tanta delicadeza, educação e precisão para fazer um comentário. Eu agradeço ao Angelo por tanto que ele me ensinou no meu doutorado, na Escola de Belas Artes”, revelou Sá, que se disse aliviado com a instalação da obra em um local definitivo. “Uma escultura desse porte, com essa importância, precisa estar onde ela merece”, acrescentou.
Sá antecipou ainda os planos para outras iniciativas como esta na Uerj. “Temos pensado os campi como um museu vivo. Embora, no Brasil, isso seja surpreendente, no panorama internacional, não é. Espaço, nós temos, e disposição também. Então, acho que é mais uma possibilidade de a Uerj se colocar numa situação de vanguarda e, inclusive, fortalecer programas desse tipo com as nossas instituições irmãs que oferecem cursos nessa área”, ressaltou o diretor.
A trajetória de um dos mais importantes escultores do Brasil

Um dos mais reconhecidos escultores brasileiros, Angelo Augusto Venosa (São Paulo, 14/8/1954 – Rio de Janeiro, 17/10/2022) foi aluno da Escola Superior de Desenho Industrial da Uerj (Esdi), onde se formou em 1977. O artista estudou também na Escola Brasil, um centro de experimentação artística de vanguarda em Santo Amaro, São Paulo, nos anos 1970, além de ter integrado a chamada Geração 80, marcada por uma arte engajada, experimental e voltada para a realidade brasileira.
Com carreira consolidada no Brasil e no exterior, Venosa participou de edições da Bienal Internacional de São Paulo, da Bienal de Veneza e da Bienal do Mercosul. Entre 2012 e 2014, teve sua primeira retrospectiva de 30 anos de carreira, apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, no Palácio das Artes (Belo Horizonte) e no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Recife).
“Negra”, criada pelo artista em 2014, foi exposta na Uerj, anteriormente, na mostra Decompor.compor, realizada na Galeria Cândido Portinari em 2019. Doada à época por Venosa à Universidade e restaurada nos últimos dois anos, a obra está exposta no lado externo do hall dos elevadores, no térreo do bloco C, no campus Maracanã, e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 7h às 22h.