Professores e ex-alunos da Uerj se destacam na elaboração de políticas públicas nacionais

13/04/202318:34

Diretoria de Comunicação da Uerj

Ministras da Saúde e da Igualdade Racial, presidentes da Capes, da Finep e da Petrobras estudaram na Universidade

Há 72 anos atuando nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) coleciona um número expressivo de alunos formados e docentes que ocupam ou já ocuparam posições destacadas, contribuindo para a elaboração de políticas públicas nas mais diversas áreas. No atual governo federal, por exemplo, duas ministras são graduadas pela instituição: a da Saúde, Nísia Trindade, primeira mulher a ocupar a pasta; e a titular do recém-criado Ministério da Igualdade Racial, Anielle Franco, escolhida pela revista Time como uma das 12 mulheres mais influentes do mundo em 2023.

Cargos estratégicos

O Instituto de Letras da Uerj foi o primeiro passo na vida acadêmica de Anielle Franco no Brasil. A ministra se graduou no curso de Inglês e Literaturas de Língua Inglesa. Antes, graças a bolsas esportivas, estudou nos Estados Unidos, onde também se formou em Jornalismo. É ainda mestre em Relações Étnico-Raciais e doutoranda em Linguística Aplicada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Anielle dirige o instituto que leva o nome de sua irmã, a vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. A instituição desenvolve uma série de ações com o propósito de fortalecer mulheres negras, periféricas e LGBTQIA+.

Em um depoimento* em vídeo, a ministra declarou sua gratidão. “Sou uerjiana com muito orgulho, a Uerj faz parte da minha trajetória, da minha vida acadêmica, das minhas lutas, do meu coração, do meu amor. Sua importância para mim é imensurável, tanto politicamente quanto educacionalmente. Agradeço muito aos professores por toda a minha construção. Para mim, é uma honra bater no peito e dizer que sou cotista da Uerj”.

O Ministério da Igualdade Racial tem na Secretaria Executiva um outro nome egresso da Uerj: a advogada Roberta Eugênio, ex-assessora de Marielle Franco, formada em Direito pela Uerj.

Ministra Nísia Trindade – Foto: https://www.gov.br/saude

Já a ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, formou-se em Ciências Sociais na Uerj. Cursou mestrado em Ciência Política e doutorado em Sociologia no antigo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), atual Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj. Atuou ainda como docente da pós-graduação e da graduação. Nísia presidiu a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e, durante a pandemia de Covid-19, liderou as ações de enfrentamento ao coronavírus, reforçando o papel da instituição como referência internacional em ciência e pesquisa.

Além da titular da pasta, a Uerj marca presença no Ministério da Saúde também com diversos outros egressos. Um deles é Dráurio Barreira, coordenador do Departamento de HIV/AIDS, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, especialista em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro (IMS). Nesta mesma unidade, Maria del Carmen Molina cursou pós-doutorado em Saúde. Atualmente, ela dirige o Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis do Ministério. Já Ethel Maciel, nomeada para a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, concluiu no IMS o doutorado em Saúde Coletiva/Epidemiologia.

Alda Cruz – Foto: Academia de Medicina do Rio de Janeiro

Para a professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Uerj Alda Maria da Cruz, agora à frente do Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério, o fato de a Uerj ter tantos nomes na atual gestão é reflexo de sua tradição em Medicina Social. “Para o cargo que assumi, estão sendo fundamentais todo o conhecimento que obtive e a experiência nesses mais de 20 anos de docência e pesquisa na Universidade”.

Alda lembra ainda que, por ser pioneira na adoção de cotas, a Uerj forma quadros qualificados atentos à diversidade. “A nossa pluralidade ajuda a montar um perfil que hoje tem muito a cara desse governo, principalmente no Ministério da Saúde, que prima pela cultura de integração de políticas, equidade de gênero, raça e em relação a pessoas com deficiência”, afirma.

Incentivo à Ciência

Duas das maiores agências públicas de promoção da ciência, educação e desenvolvimento são atualmente lideradas por ex-alunos da Uerj. Graduado em Português/Literatura pelo Instituto de Letras, Celso Pansera assumiu a presidência da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) no final de março. Já Mercedes Bustamante, formada em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag), comanda a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) desde o início de janeiro.

Mercedes Bustamante – Foto: Naiara Demarco CGCOM/Capes

Para Mercedes, o papel da Universidade foi fundamental na sua trajetória como profissional e cidadã. “A graduação trouxe novos horizontes por meio de aulas teóricas e práticas, com saídas de trabalho de campo que foram essenciais na construção de uma base sólida em Biologia. Tive ainda a oportunidade de permanecer por um mês no campus avançado da Uerj em Parintins, em 1982, e essa estadia foi determinante nas demais etapas da minha carreira”, explica.

A presidente da Capes lembra também a importância da instituição no contexto político do fim da ditadura militar. “A Universidade foi um espaço muito rico para viver essa transição, incluindo o movimento pelas eleições diretas”, afirma.

Mercedes defende que a educação é central para o alcance da equidade, desenvolvimento sustentável e justiça social, além de ocupar papel-chave como agente poderoso de mudança social. “Na universidade, convergem a geração e a transmissão de conhecimento, a inovação e os processos de formação de novos educadores. As iniciativas que ampliam a diversidade e a representatividade social estimulam o pensamento crítico a partir do convívio de diferentes visões”, acrescenta.

No âmbito estadual, a Uerj também está presente na Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), onde o professor Edgard Leite, do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), comanda a Subsecretaria de Ensino Superior, Pesquisa e Inovação. Na Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), o professor Bruno Sobral, da Faculdade de Ciências Econômicas, é o atual subsecretário de Planejamento Estratégico. Anteriormente, foi subsecretário de Política Fiscal na Secretaria de Fazenda (Sefaz).

Dois ex-reitores já exerceram a presidência da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj): Ruy Garcia Marques (2007 a 2015) e Ricardo Vieiralves (2017 a 2018). Atualmente, a entidade conta com a atuação dos professores Egberto Gaspar de Moura, do Ibrag, como assessor da presidência desde 2022, depois de ter ocupado o cargo entre 2007 e 2014; Eliete Bouskela, da mesma unidade, diretora científica desde 2021, e Alice Casimiro, da Faculdade de Educação, como presidente do Conselho Superior e representante das universidades estaduais, entre outros nomes da Uerj que estão à frente de assessorias, comissões e coordenações de área.

Comunicação e Economia

Já na estrutura da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, o professor João Feres Júnior leva o DNA da Uerj para a Secretaria de Análise, Estratégia e Articulação da pasta. Cientista político, ele é professor e pesquisador no Iesp.

Na opinião de Feres, há uma tendência para que a conexão entre universidade e administração pública se intensifique, com esforços de ambos os lados. “A gente está caminhando para uma mistura mais saudável entre esses dois atores. A administração pública está se tornando cada vez mais científica. É importante ter o técnico e o político juntos”, declara.

O atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, é mais um exemplo de aluno egresso que leva o nome da Universidade a postos destacados. Graduado em Direito pela Uerj e em Economia pela PUC-Rio, ele agora lidera uma companhia que emprega aproximadamente 50 mil funcionários, com papel crucial no desenvolvimento tecnológico e investimento estratégico no país – além de disputar protagonismo na produção de petróleo frente a outros players globais.

Outro ex-aluno da Faculdade de Direito é Wadih Damous, que assumiu a Secretaria Nacional do Consumidor, no Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Tradição em políticas públicas

A presença da Uerj no Executivo estadual e federal não é algo novo. Na verdade, as últimas décadas ficaram marcadas pelas contribuições de diversos representantes da instituição, como o ex-reitor Hesio Cordeiro (1992 a 1995). Formado em Medicina pela Universidade, foi presidente do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), entre 1985 e 1988, além de ter sido consultor da Organização Pan-americana de Saúde (Opas) e presidido a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), onde se destacou em defesa do movimento pela reforma sanitária brasileira. Hesio Cordeiro foi um dos idealizadores do Sistema Único de Saúde (SUS).

Já a professora Nilcea Freire, primeira mulher a ocupar a Reitoria (2000-2003), foi nomeada, em 2004, ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, cargo em que permaneceu até 2011. Na época, foi criada a Lei Maria da Penha, para coibir atos de violência contra a mulher.

Também se destacaram os professores André Lázaro, da Faculdade de Comunicação Social, na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC (2007 a 2010); Maria Isabel de Castro de Souza, da Faculdade de Odontologia, como secretária de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro (2020); e o professor José Noronha, do IMS, como secretário de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (1988 a 1990), dentre outros.

*Depoimento da ministra Anielle Franco concedido a Ana Cláudia Theme/Comuns.