Painel comemorativo e exposição marcam celebração do centenário da ceramista pernambucana Ana das Carrancas

29/08/202314:34

Diretoria de Comunicação da Uerj

 

O Ano Comemorativo Ana das Carrancas, instituído pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), teve sua principal celebração na última quinta-feira (24), em cerimônia marcada pelo descerramento do novo painel instalado no hall do térreo do campus Maracanã. Na mesma data, foi realizada uma oficina de cerâmica em ateliê no Centro Cultural, ministrada pelas filhas da artesã, Maria da Cruz e Ângela Lima, e inaugurada uma exposição em frente ao quadro, com obras da renomada ceramista que completaria 100 anos em 2023.

Reitor Mario Carneiro, Maria e Ângela (filhas de Ana), pró-reitores Cláudia Gonçalves, Rogério Rufino e Luis Mota
Descerramento do painel comemorativo

“Hoje é um dia muito especial. Estamos homenageando a diversidade e a riqueza das manifestações culturais do país, especialmente dos saberes tradicionais do Nordeste”, afirmou o reitor Mario Carneiro, ao descrever a trajetória da artista natural do sertão pernambucano. Autodidata, Ana escolheu o barro como forma de manifestação artística. Seguindo os ensinamentos da mãe, criou peças únicas e deu origem a uma escola de ceramistas.

“A Uerj, como uma universidade pública, gratuita, referenciada socialmente e de excelência, que vem se consolidando como a mais inclusiva, plural e democrática do Brasil, destaca Ana das Carrancas por ela representar a identidade, a memória e a tradição do povo brasileiro”, acrescentou.

“Nas minhas veias corre sangue de barro”

A frase que compõe o painel, ao lado da foto de Ana e uma de suas inseparáveis criações, expressa a intensa dedicação ao trabalho, que fez dela escultora e louceira internacionalmente reconhecida. “Parecida com tantas mulheres nordestinas, ela foi a maior artista autoral de modelagem em argila do mundo. Transformou a fuga e a escassez em arte popular, e a Uerj tem o dever e a honra de homenageá-la”, ressaltou a pró-reitora de Extensão e Cultura (PR3), Cláudia Gonçalves.

Nascida em 1923, Ana Leopoldina dos Santos, negra, sertaneja e analfabeta, se tornou ícone da cultura nacional. Suas obras refletem o imaginário do povo ribeirinho da região do médio São Francisco, local repleto de lendas e crenças sobre figuras antropomórficas e míticas, bem como a história de luta e resistência de grande parte dos nordestinos.

Maria da Cruz, filha da artesã, agradece a homenagem

Fugindo da seca e do desemprego, migrou de Ouricuri para Petrolina, em Pernambuco, com duas filhas e o segundo marido. As carrancas de madeira, esculturas presentes na proa das embarcações que navegavam pelas águas do Velho Chico, foram a fonte de inspiração para as suas peças, moldadas com o barro retirado do próprio rio. Segundo a tradição e a religiosidade local, esses artefatos afastam os maus espíritos e trazem boa sorte aos tripulantes.

Em homenagem ao companheiro cego, a artista, também conhecida como “A Dama do Barro”, furava os olhos das carrancas. Com esse ofício, coragem e persistência, ajudou a sustentar a família, como apontou sua filha Maria da Cruz, em discurso de agradecimento. “Meu coração está radiante de alegria. Nós estamos dando continuidade ao trabalho lindo que Ana realizava. Ela fazia cultura para sobreviver, e hoje a Uerj reconhece a importância de sua obra. Meus parabéns e muito obrigado a todos que fizeram esse momento acontecer”, finalizou.

Assista ao programa especial da TV Uerj sobre Ana das Carrancas:

Confira também o calendário que traz datas marcantes da trajetória da artista.