Imagens da natureza e cultura do país, captadas por professor da Uerj, ilustram novo passaporte brasileiro

24/10/202318:20

Diretoria de Comunicação da Uerj

 

O que um jacaré, uma bromélia e uma boneca de palha têm em comum? Esses e outros elementos da fauna, flora e cultura do Brasil representam a diversidade do país e foram escolhidos para ilustrar as páginas internas do novo passaporte, que começou a ser emitido em outubro pela Polícia Federal e a Casa da Moeda. Entre os autores dessas imagens, está o professor Antonio Carlos de Freitas, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Coordenador do BioCenas – Núcleo de Fotografia Científica Ambiental, vinculado ao Departamento de Inovação da Uerj, ele cedeu ao documento de viagem fotos que pertencem a um acervo com cerca de 500 mil imagens de várias regiões do país, reunidas ao longo de mais de 15 anos de trabalho.

Freitas foi procurado há cinco anos pela Casa da Moeda do Brasil a partir da indicação de uma de suas ex-alunas e atual desenhista da instituição. Após um processo seletivo, o professor foi convidado a empreender expedições pelos biomas brasileiros para fotografar espécimes de plantas e animais típicos, bem como elementos culturais dessas regiões. “Fizemos três viagens, todas de dez dias: ao Pantanal, ao Parque Nacional da Serra da Capivara (que reúne caatinga e cerrado), no Piauí, e ao Rio Grande do Sul (pampas). Juntei esses registros novos com alguns que já tinha e fiz um banco de imagens para a Casa da Moeda”, relata. “É muito gratificante pensar que agora as minhas fotografias vão circular pelo mundo no bolso de todos os brasileiros que viajarem para o exterior”.

Fotos passaram por software de segurança

O novo documento de viagem brasileiro segue uma tendência mundial de passaportes temáticos, como revela Millie Britto, projetista de Valores e gerente da Seção de Projetos Artísticos da Casa da Moeda. “Com o tema ‘Paisagens Naturais e Culturais do Brasil’, a intenção da nossa equipe de design é fazer com que cada brasileiro se sinta representado e homenageado, se reconheça nas páginas da caderneta e tenha orgulho da imensa diversidade natural e cultural do nosso país”, afirma.

Animais fotografados pelo professor ilustram as páginas

Por se tratar de um produto que requer altos níveis de segurança, o passaporte não pode conter imagens aplicadas em sua forma original. “Por esse motivo, as fotografias sofreram interpretação de um software para evitar tentativas de falsificação”, acrescenta Millie. Além disso, o documento contém um conjunto de recursos, como figuras que só podem ser vistas sob luz ultravioleta, 13 marcas d’água, perfuração a laser e laminado holográfico na página de dados.

Tanto cuidado e esmero da equipe foram recompensados. Em junho, o novo passaporte brasileiro recebeu o prêmio de “Melhor Novo Passaporte da América Latina”, na categoria “Documento de identificação regional do ano”, na High Security Printing 2023, conferência renomada sobre documentos de identificação de alta segurança realizada em Nassau, Bahamas.

Arte e ciência

Prof. Antonio Carlos (à esq.) recebe homenagem

O trabalho desenvolvido por Freitas para o novo passaporte também valeu ao professor o reconhecimento da Casa da Moeda. Indicado pelo Departamento de Projetos Artísticos e Matrizes (Demat) e pela Diretoria de Inovação e Mercado (Dirim) da instituição, ele foi agraciado, em fevereiro de 2023, com uma medalha e o título de “Amigo da Casa da Moeda do Brasil”. “Esse tipo de reconhecimento é importante por valorizar o trabalho científico que desenvolvemos”, comenta.

No BioCenas, a fotografia é usada como método científico, em uma clara união de arte com ciência. De acordo com o professor, as imagens seguem padrões de composição que não são exclusivos da fotografia, mas vêm das artes plásticas. “Fazemos ciência com as nossas imagens. E, no Núcleo, incorporamos todos os conceitos plásticos para tentar uma comunicação maior com o nosso receptor, tanto do ponto de vista artístico quanto científico”, explica.

Não à toa, o Núcleo já foi vencedor de dois editais na área de Artes. O primeiro deles foi “Arte e ciência das formas padrões da natureza”, que resultou em uma grande exposição no Centro de Visitantes do Jardim Botânico, em 2010. O segundo foi o “MacroAtlântica”, em 2016, uma visão da Mata Atlântica sob o ponto de vista da macrofotografia, que ficou em cartaz no Ecomuseu Ilha Grande. “Fizemos uma série de imagens bem radicais, para desconstrui-las em seguida. Pegávamos um organismo qualquer e fazíamos uma fotografia com um pequeno detalhe dele, de forma que o público, ao vê-lo, não o identificava. Fizemos a exposição em dois ambientes: um só com essas imagens e o outro com a revelação dessa imagem”, conta o professor.

Elementos culturais também fazem parte dos registros
Imagem da boneca de palha aplicada no passaporte

Além do trabalho de pesquisa, Freitas leva todo o seu conhecimento e experiência para as salas de aula. Na Uerj, ele ministra a disciplina Fotografia Científica Ambiental, para a graduação e a pós-graduação, com atividades desenvolvidas no Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (Ceads), no campus de Ilha Grande. “Existem muitos pesquisadores que são fotógrafos, principalmente na área ambiental, pois é muito importante ter registros. Por causa disso, desde 2004 venho ministrando essa disciplina. Os alunos terminam os cursos e vão dar aulas e fazer pesquisas em várias partes do Brasil. São os multiplicadores”, orgulha-se.