Carnavalesca Rosa Magalhães doa acervo de 5 mil croquis de figurinos e alegorias à rede de bibliotecas da Uerj

25/08/202217:26

Diretoria de Comunicação da Uerj

Grande parte das criações de Rosa Magalhães agora está sob a guarda da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Na última sexta-feira (19), a professora, artista plástica e carnavalesca formalizou a doação de seu acervo iconográfico, com cerca de cinco mil croquis de figurinos e alegorias, à Rede Sirius de Bibliotecas, que ficará responsável por armazenar, catalogar e digitalizar o material.

Distribuídos em 69 pastas, os desenhos originais em folhas A3 revelam uma trajetória de mais de quatro décadas de sucesso no Carnaval carioca, consagrada com a conquista de oito títulos do grupo especial. A coleção reúne trabalhos de 1974 a 2022, elaborados para os desfiles de diversas escolas de samba do Rio de Janeiro, como Imperatriz Leopoldinense, Mangueira, Beija-Flor, Portela e Vila Isabel.

“A Uerj é uma universidade popular, então a cultura popular é muito importante aqui. É uma honra receber esse material, que certamente terá lugar de destaque em um novo projeto que estamos desenvolvendo”, anunciou o reitor Mario Carneiro. “Vamos criar um museu da Uerj, para congregar acervos das mais diversas áreas que estão nos campi, além de mostrar a história da Universidade. Espero em breve dar um passo concreto para essa realização”, acrescentou.

Por enquanto, as obras ficarão salvaguardadas no Núcleo de Memória, Informação e Documentação (MID), sob rígidos controles de segurança, temperatura, luminosidade, umidade e qualidade do ar. De acordo com a diretora da Rede Sirius, Leila Andrade, as tratativas para a doação começaram em março. “Fomos à casa da professora e ela se mostrou não só uma profunda conhecedora da arte, mas também da preservação das obras. Felizmente, tínhamos todas as condições ideais para receber esse acervo. Foi uma grata surpresa termos conquistado essa parceria”.

A diretora destacou o ineditismo da iniciativa. “Não é comum que as bibliotecas universitárias abriguem desenhos originais feitos por artistas renomados. Todo esse material ficará disponível como fonte de estudo, contribuindo para a garantir a memória de um movimento fortemente enraizado na cultura do país e, principalmente, do estado do Rio”. Segundo Leila Andrade, já está em curso o planejamento para organização das obras. “Esse trabalho precisa abranger não apenas a digitalização, mas também a catalogação, com inclusão de metadados que permitam a busca”, explicou.

Rosa Magalhães disse que seu maior desejo é que o material esteja acessível para a população. “Quando você quer pesquisar alguma coisa, ainda é muito difícil, então quanto mais pudermos facilitar essa abordagem, melhor. Por isso, gostaria de pedir a todos os carnavalescos e escolas que doem seus trabalhos para cá, porque assim não ficarão restritos a alguns poucos que tenham a possibilidade de vê-los”.

A carnavalesca narrou a ocasião em que encontrou, em uma biblioteca na Quinta da Boa Vista, informações valiosas para um de seus principais enredos. “O acervo era fantástico, sobre todas as expedições do Brasil. Descobri a história do jegue e do camelo, com detalhes incríveis. Tinha até um livro sobre como alimentar os filhotes! E eu nunca tinha ouvido falar daquele lugar. Essas coisas têm que ser divulgadas”. O desfile “Mais vale um jegue que me carregue, que um camelo que me derrube lá no Ceará”, que abordou de forma bem-humorada a tentativa frustrada de substituir animais locais do Nordeste por outros de espécie importada, levou a Imperatriz ao primeiro lugar no Carnaval de 1995.

Biografia e título na Universidade

Aluna do curso de Letras da Uerj na década de 60 (na época Universidade do Estado da Guanabara – UEG), Rosa Magalhães recebeu, em março de 2022, o reconhecimento da importância de suas contribuições culturais à sociedade. Após aprovação unânime no Conselho Universitário, a instituição lhe concedeu sua mais alta honraria: o título de Doutora Honoris Causa.

Mas a aproximação com a Universidade veio alguns anos antes, em 2019, quando o projeto Acervo Universitário do Samba publicou sua biografia, “A moça prosa da avenida”, que também virou documentário da TV Uerj. Junto com o livro, de autoria do professor Luiz Ricardo Leitão, foi encartado um DVD-bônus. “Nós digitalizamos 117 croquis e incluímos no DVD. Acredito que essa primeira iniciativa tenha provocado uma reflexão em Rosa no sentido de doar seu acervo, porque ela precisou rever todas as suas pastas para fazer a seleção. E na ocasião da entrega do título, voltamos a falar no assunto”, revelou o autor.

Para Leitão, os desenhos chamam a atenção não apenas pela beleza do traço, mas também pela criatividade. “Aqueles mais saborosos são os de tema mais insólito. É genial, por exemplo, a contenda entre o nativo e o artificialismo dos padrões estrangeiros naquele enredo do jegue. Tudo é muito simbólico nas concepções dessa grande artista”, concluiu.