Diretoria de Comunicação da Uerj

Em um momento em que a conservação marinha se mostra primordial para o planeta, pesquisadores da Uerj integram um estudo global que pode mudar o futuro dos oceanos. Promovida pela Australian National University (ANU) e apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a pesquisa MegaMove (Marine Megafauna Movement) teve seus resultados publicados na revista Science, reforçando a urgência de ampliar a proteção das áreas marinhas de 8% para 30% pelo Tratado de Alto Mar, um acordo internacional que visa proteger a biodiversidade marinha em águas internacionais – meta prioritária da Década do Oceano da ONU (2021-2030).
Participaram do MegaMove 376 cientistas de 50 países, entre eles o professor Carlos Frederico Duarte Rocha, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag), e a pesquisadora Maria de los Milagros L. Mendilaharsu, doutora pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia e Evolução (PPGEE/Ibrag), ambos da Uerj. “Para qualquer universidade é um privilégio integrar um estudo de largas proporções como este”, comenta Carlos Frederico. “Isso demonstra a qualidade da Uerj e a relevância dos dados que produzimos para a conservação global”, aponta.
De acordo com o professor, a percepção tanto por cientistas quanto pela ONU é de que a área atualmente protegida dos oceanos é muito inferior ao necessário para garantir a preservação da biodiversidade. “Os oceanos desempenham papel fundamental na regulação do clima e do ciclo da água da Terra, e essa proteção precisa ser global”, acrescenta.
Pesquisadores da Uerj rastrearam tartaruga-gigante
A equipe da Uerj contribuiu com informações sobre os padrões de movimento da tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) – maior espécie de tartaruga marinha do mundo – no Atlântico Sul Ocidental, utilizando dados coletados durante o doutorado da pesquisadora Maria de los Milagros. Transmissores acoplados aos animais permitiram mapear suas rotas migratórias, áreas de alimentação e locais de reprodução.

No estudo global, foram analisados 11 milhões de registros de posicionamento geográfico de 15.845 indivíduos de 121 espécies da megafauna marinha, como golfinhos, baleias, tartarugas marinhas, focas e tubarões. “Todos esses organismos possuem longo ciclo de desenvolvimento e são muito susceptíveis à degradação de suas áreas essenciais, o que torna relevante seu estudo para mapear as regiões mais importantes para a sua preservação”, explica o professor.
Resultados alarmantes e propostas de conservação
Os dados revelaram que apenas 7,5% das áreas essenciais para a megafauna marinha estão atualmente dentro de zonas protegidas. “Isso mostra que os 8% de proteção atual são claramente insuficientes”, alerta Carlos Frederico. “Nosso estudo indica que 63% do habitat essencial das 121 espécies estudadas está fora das áreas marinhas protegidas existentes ou propostas”, destaca.
Ele ressalta que a simples ampliação das áreas protegidas não será suficiente. “Além da extensão das áreas, precisamos implementar estratégias de mitigação como a troca de equipamentos de pesca, uso de luzes diferentes nas redes e esquemas de tráfego para navios. Essas medidas serão fundamentais para aliviar a pressão humana sobre essas espécies”, afirma.
Impacto global e participação brasileira na pesquisa
De acordo com o professor, existe potencial nessa pesquisa para influenciar diretamente as políticas de conservação marinha ao nível global. “Os dados que geramos trazem subsídios fundamentais para embasar cientificamente a necessidade premente de se aumentar o percentual das áreas oceânicas protegidas”, observa.
Os resultados do MegaMove foram apresentados na III Conferência da ONU sobre os Oceanos, de 9 a 13 de junho, em Nice, França, e, segundo Carlos Frederico, continuarão a embasar discussões internacionais sobre a proteção marinha. “Esse aumento para 30% é conservador, mas representa um avanço crucial. Nossos oceanos são fundamentais para o equilíbrio do planeta e precisamos agir agora para protegê-los”, conclui o pesquisador.
Além da Uerj, outras instituições brasileiras também participaram do estudo: a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); a Universidade Federal do Rio Grande (FURG); a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes); o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas e da Biodiversidade Marinha do Leste (Centro Tamar do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio); a Fundação Projeto Tamar de Mata de São João, Bahia; a Fundação Florestal de São Paulo; e o Instituto Proshark de Angra dos Reis, RJ.