Década do Oceano da ONU: Uerj integra pesquisa que embasa meta de proteção de 30% das águas internacionais até 2030

25/06/202516:35

Diretoria de Comunicação da Uerj
Equipe da Uerj contribuiu com informações sobre os padrões de movimento da tartaruga-de-couro / Foto: Projeto Tamar

 

Em um momento em que a conservação marinha se mostra primordial para o planeta, pesquisadores da Uerj integram um estudo global que pode mudar o futuro dos oceanos. Promovida pela Australian National University (ANU) e apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a pesquisa MegaMove (Marine Megafauna Movement) teve seus resultados publicados na revista Science, reforçando a urgência de ampliar a proteção das áreas marinhas de 8% para 30% pelo Tratado de Alto Mar, um acordo internacional que visa proteger a biodiversidade marinha em águas internacionais – meta prioritária da Década do Oceano da ONU (2021-2030).

Participaram do MegaMove 376 cientistas de 50 países, entre eles o professor Carlos Frederico Duarte Rocha, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag), e a pesquisadora Maria de los Milagros L. Mendilaharsu, doutora pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia e Evolução (PPGEE/Ibrag), ambos da Uerj. “Para qualquer universidade é um privilégio integrar um estudo de largas proporções como este”, comenta Carlos Frederico. “Isso demonstra a qualidade da Uerj e a relevância dos dados que produzimos para a conservação global”, aponta.

De acordo com o professor, a percepção tanto por cientistas quanto pela ONU é de que a área atualmente protegida dos oceanos é muito inferior ao necessário para garantir a preservação da biodiversidade. “Os oceanos desempenham papel fundamental na regulação do clima e do ciclo da água da Terra, e essa proteção precisa ser global”, acrescenta.

Pesquisadores da Uerj rastrearam tartaruga-gigante

A equipe da Uerj contribuiu com informações sobre os padrões de movimento da tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) – maior espécie de tartaruga marinha do mundo – no Atlântico Sul Ocidental, utilizando dados coletados durante o doutorado da pesquisadora Maria de los Milagros. Transmissores acoplados aos animais permitiram mapear suas rotas migratórias, áreas de alimentação e locais de reprodução.

Carlos Frederico observa o “Lagartinho Branco da Praia”, espécie ameaçada de extinção

No estudo global, foram analisados 11 milhões de registros de posicionamento geográfico de 15.845 indivíduos de 121 espécies da megafauna marinha, como golfinhos, baleias, tartarugas marinhas, focas e tubarões. “Todos esses organismos possuem longo ciclo de desenvolvimento e são muito susceptíveis à degradação de suas áreas essenciais, o que torna relevante seu estudo para mapear as regiões mais importantes para a sua preservação”, explica o professor.

Resultados alarmantes e propostas de conservação

Os dados revelaram que apenas 7,5% das áreas essenciais para a megafauna marinha estão atualmente dentro de zonas protegidas. “Isso mostra que os 8% de proteção atual são claramente insuficientes”, alerta Carlos Frederico. “Nosso estudo indica que 63% do habitat essencial das 121 espécies estudadas está fora das áreas marinhas protegidas existentes ou propostas”, destaca.

Ele ressalta que a simples ampliação das áreas protegidas não será suficiente. “Além da extensão das áreas, precisamos implementar estratégias de mitigação como a troca de equipamentos de pesca, uso de luzes diferentes nas redes e esquemas de tráfego para navios. Essas medidas serão fundamentais para aliviar a pressão humana sobre essas espécies”, afirma.

Impacto global e participação brasileira na pesquisa

De acordo com o professor, existe potencial nessa pesquisa para influenciar diretamente as políticas de conservação marinha ao nível global. “Os dados que geramos trazem subsídios fundamentais para embasar cientificamente a necessidade premente de se aumentar o percentual das áreas oceânicas protegidas”, observa.

Os resultados do MegaMove foram apresentados na III Conferência da ONU sobre os Oceanos, de 9 a 13 de junho, em Nice, França, e, segundo Carlos Frederico, continuarão a embasar discussões internacionais sobre a proteção marinha. “Esse aumento para 30% é conservador, mas representa um avanço crucial. Nossos oceanos são fundamentais para o equilíbrio do planeta e precisamos agir agora para protegê-los”, conclui o pesquisador.

Além da Uerj, outras instituições brasileiras também participaram do estudo: a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); a Universidade Federal do Rio Grande (FURG); a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes); o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas e da Biodiversidade Marinha do Leste (Centro Tamar do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio); a Fundação Projeto Tamar de Mata de São João, Bahia; a Fundação Florestal de São Paulo; e o Instituto Proshark de Angra dos Reis, RJ.