Diretoria de Comunicação da Uerj
Com um formato único no Brasil, o Vestibular da Uerj vem se tornando célebre por ser um dos que mais incentivam o mergulho dos candidatos na literatura. A leitura de obras literárias específicas é obrigatória em nada menos do que todas as fases do concurso. Este ano, “Amor”, de Clarice Lispector, foi selecionado para o 1º Exame de Qualificação; “Senhora”, de José de Alencar, para o 2º Exame de Qualificação; “O quase fim do mundo”, de Pepetela, para a prova de Língua Portuguesa e Literaturas; e “Hamlet”, de William Shakespeare, para a Redação.
“As obras referentes à prova de Linguagens representam a literatura brasileira, sendo que para um dos Exames de Qualificação são selecionadas obras de domínio público. Já para a prova discursiva de Língua Portuguesa e Literaturas, a prioridade são obras de literatura produzidas por escritores dos demais países de língua portuguesa. Para a prova de redação, também são sugeridos livros brasileiros ou estrangeiros que tragam em suas temáticas questões para o tema da redação”, explica a diretora do Departamento de Seleção Acadêmica (Dsea) da Uerj, Marcia Gonçalves.
A seleção dos livros aconteceu por meio de uma consulta pública – outro diferencial do Vestibular Estadual –, disponibilizada pela Revista Eletrônica do Vestibular Uerj, em que estudantes e educadores puderam votar nos títulos de sua preferência.
Adotada em 2017 como um sistema para incentivar a participação ativa das escolas e dos candidatos no processo de escolha e discussão de livros, a consulta pública permite um debate mais amplo sobre a literatura, incluindo a representatividade de autores. Inicialmente, a consulta permitia sugestões diretas de livros, mas o formato foi ajustado para estimular uma discussão mais aprofundada sobre as escolhas. “Qualquer pessoa pode votar no livro a ser objeto da respectiva prova ou da redação. Para a coordenação acadêmica e para as bancas de elaboração, a obra escolhida, seja ela qual for, é muito bem-vinda!”, afirma a diretora.
A literatura como um diferencial
A coordenadora acadêmica do Dsea, Gisele Carvalho, salienta que a leitura literária desempenha um papel fundamental na formação intelectual e cultural dos estudantes, tornando-se uma ferramenta para o desenvolvimento do pensamento crítico e da compreensão de diferentes realidades. “Ao ser incluída como foco no Vestibular, a literatura não apenas reforça o domínio da língua e a capacidade de interpretação de textos, mas também amplia a visão de mundo dos candidatos”, afirma. “A indicação de uma obra literária por exame tem vários pontos de relevância. Um deles diz respeito à retomada da centralidade da literatura como fonte de vivência e questionamento de outras realidades além do leitor, especialmente para aqueles que desejam ingressar na Universidade, onde se valoriza o pensamento crítico e a compreensão de múltiplas perspectivas”, acrescenta Gisele.
Gustavo Bernardo Krause, editor-executivo da Editora da Uerj (Eduerj), sublinha que, ao englobar diferentes gêneros, estilos e contextos, a literatura promove um aprendizado interdisciplinar, conectando-se com áreas como História, Filosofia, Sociologia e Artes. Essa abordagem possibilitaria, segundo ele, uma formação mais completa, já que incentiva a análise crítica e o diálogo entre saberes. “A presença de autores nacionais e estrangeiros no Vestibular da Uerj também favoreceu a valorização da diversidade cultural e linguística, permitindo que os estudantes reconheçam a influência de peculiaridades das tradições literárias na construção do pensamento humano”, ressalta Krause, lembrando que a relevância da literatura é múltipla. “Falar de literaturas portuguesa e africanas é importante porque diz muito sobre nossas origens”, complementa.
Ciclo de Palestras
Como nos anos anteriores, o Dsea vai promover, ao longo de 2025, o Ciclo de Palestras do Vestibular Estadual 2026, voltado para alunos e professores do ensino médio. Conduzidos por docentes do Instituto de Letras da Uerj, os encontros serão presenciais, no Auditório 11 do campus Maracanã, e contarão com transmissão ao vivo pela TV Uerj. Acompanhe a divulgação das inscrições pelo site do Vestibular Uerj.
Confira o calendário e os professores palestrantes:
. 27 de maio, às 15h – Flávio Carneiro (Literatura Brasileira) sobre “Amor”, de Clarice Lispector;
. 19 de agosto, às 15h – Ana Karla Canarinos (Literatura Brasileira) sobre “Senhora”, de José de Alencar;
. 30 de outubro, às 15h – Fernanda Medeiros (Literatura Inglesa) sobre “Hamlet”, de William Shakespeare;
. 18 de novembro, às 15h – Marcelo Mattos (Literatura Portuguesa) sobre “O quase fim do mundo”, de Pepetela.
Conheça os livros selecionados
Professor de Literatura Brasileira, Gustavo Krause comenta cada obra selecionada para o Vestibular Estadual 2026, analisando suas principais características e oferecendo dicas para a preparação dos estudantes. Confira:
“Amor”, de Clarice Lispector: “É um conto que aparece no livro ‘Laços de família’. É um dos mais famosos e dos mais bonitos contos brasileiros, mas é também um dos mais densos. Qualquer resumo da narrativa a empobrece bastante. Recomendo ler e reler algumas vezes, discutindo com os colegas e os professores entre as leituras”.
“Senhora”, de José de Alencar: “É um romance em que se constrói o perfil de uma mulher linda e revolucionária para a época, porque ela literalmente compra um marido, ao invés de se submeter a um homem. É interessante ler junto com ‘Lucíola’, outro romance do mesmo autor com outra personagem feminina forte. A curiosidade aqui é que José de Alencar era um homem extremamente conservador, mas construiu dois perfis de mulheres liberais. Recomendo ler procurando as contradições do romance, que são muito ricas e instigantes”.
“O quase fim do mundo”, de Pepetela: “Um escritor angolano que cria uma distopia, isto é, o oposto de uma utopia, em plena África. Ele escreve em português, é claro, mas em um português diferente tanto do nosso quanto do de Portugal. Recomendo ler alguns trechos em voz alta, para sentir melhor essa diferença”.
“Hamlet”, de William Shakespeare: “Um superclássico, citado muitas vezes inclusive pelas pessoas que nunca o leram nem assistiram à peça. Recomendo NÃO ler uma versão adaptada para crianças ou uma versão em prosa, para não perder as melhores frases e as melhores reflexões. Há várias boas traduções para o português no mercado, até mesmo em livro de bolso. Como é uma obra indicada para a prova de Redação, recomendo discutir, com colegas e professores, as questões que a peça levanta, trazendo-as para os nossos dias. Essas discussões ajudarão o candidato a formar sua opinião sobre tais questões, que é exatamente o que a proposta da Redação vai pedir”.
