Uerj integra rede de instituições e grupos sociais para acolhimento a mães de vítimas da violência do Estado

07/08/202415:31

Diretoria de Comunicação da Uerj

Selecionar mulheres que perderam seus filhos em ações policiais para contribuírem com o acolhimento de outras mães que passaram pela mesma situação. Essa é a proposta do edital da Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência do Estado (Raave), projeto-piloto criado a partir de uma articulação da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro com instituições e grupos de movimentos sociais que promovem atenção psicossocial e defesa da cidadania. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) integra a iniciativa, que tem o objetivo de construir uma política pública de reparação à violência do Estado.

Com inscrições já encerradas, o edital entra na etapa de seleção de cem mulheres, cis ou trans, maiores de 18 anos, residentes no estado do Rio de Janeiro, que sofreram com a morte de seus filhos por agentes do Estado. Essas mães bolsistas vão ampliar a atuação da Raave, compondo núcleos de articulação de rede local, onde atuarão nas atividades de acolhimento psicossocial de familiares atingidos por violações de direitos causadas por agentes públicos estaduais. Também vão colaborar com o aperfeiçoamento e fortalecimento da rede de assistência do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

As candidatas selecionadas participarão de dois encontros mensais, com atividades e oficinas de formação para alinhamento da metodologia a ser adotada. Pela dedicação de 20 horas semanais ao projeto, receberão uma bolsa de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), outra instituição integrante da Raave, no valor de R$ 700 mensais durante um ano, com possibilidade de renovação pelo mesmo período.

Segundo a professora Alice De Marchi, do Instituto de Psicologia da Uerj, e uma das coordenadoras do Núcleo Multidisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão em Direitos Humanos – Universidade, Resistência e Direitos Humanos (Urdir), a inserção dessas mulheres como protagonistas no processo de elaboração das metodologias de atendimento clínico será muito valiosa. “Elas ocupam lugares que só quem passa pela mesma experiência conhece; em seus territórios, enfrentando a violência cotidiana das comunidades onde estão inseridas, e como mães que sofrem a perda de seus filhos”, afirma.

“Nós atuamos nessa área aqui na Uerj, através da Urdir, desde maio de 2019. E integramos a Raave desde o início das atividades, em setembro de 2022. O intercâmbio com as instituições participantes tem sido fundamental para nosso aprimoramento constante. Mas a colaboração dessas mulheres, com seus saberes, legitimados pela vivência de uma realidade que a academia não alcança, nos abrirá novas possibilidades”, acrescenta.

Processo seletivo criterioso

A primeira fase da avaliação foi a análise biográfica. As candidatas preencheram um formulário online com informações pessoais, no qual a frequência da violência de agentes do Estado no local onde moram e a participação em atividades, grupos ou movimentos de mães e familiares de vítimas da violência do Estado definiram uma pontuação. Justificar com as próprias palavras o interesse em ingressar do programa foi o item que contou maior número de pontos. Na fase seguinte, uma entrevista presencial, foram chamadas 150 candidatas, obedecendo a ordem de pontuação da análise biográfica. Nessa etapa, foi verificada a veracidade das informações fornecidas na primeira fase e a disponibilidade para participar das atividades do projeto.

A classificação final – terceira e última fase – levará em conta a pontuação gerada pelas duas fases anteriores, podendo haver a priorização justificada das candidatas com o maior potencial de construção de núcleos de articulação de rede local em lugares específicos, de acordo com os objetivos da Raave. O resultado final do processo seletivo será divulgado em 12 de agosto, e as mães bolsistas tomarão posse em 16 de agosto.

Sobre a Urdir Uerj

Equipe da Urdir. Em pé, a professora Alice De Marchi

O Núcleo Multidisciplinar de Ensino, Pesquisa e Extensão em Direitos Humanos da Uerj – Universidade, Resistência e Direitos Humanos (Urdir) é um projeto coordenado pela professora Alice De Marchi e pela professora Ivanilda Figueiredo, da Faculdade de Direito da Uerj. Busca produzir laços entre direitos humanos e universidade, Psicologia e Direito, comunidade acadêmica e movimentos sociais, articulando pesquisa, extensão e ensino em torno dos direitos humanos e seus eixos transversais: gênero, raça, classe, sexualidade.

“A partir de uma perspectiva crítica, feminista, antirracista, de defesa de LGBTs, laica e socialmente referenciada, o núcleo visa desenvolver projetos e ações que afirmem a implicação da Universidade com a comunidade em função da promoção e defesa dos direitos humanos, contribuindo, ao mesmo tempo, para processos de formação e sensibilização da comunidade acadêmica com este viés ético-político”, explica Alice.

A equipe da Urdir é formada por dois alunos bolsistas de extensão, um bolsista de iniciação científica (IC), cinco bolsistas Prodocência, um bolsista Capes do mestrado em Psicologia Social (PPGS/Uerj), um bolsista Proatec e nove voluntários, entre alunos de graduação (extensão, IC, estágio) e pós (mestrado). Mais informações estão disponíveis no perfil da Urdir no Instagram.

Sobre a Raave

Reunião da Raave na Uerj

A Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência de Estado (Raave), idealizada pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, é formada por instituições de defesa dos direitos humanos, movimentos sociais de favelas e 12 grupos clínico-políticos. O projeto tem como objetivo o fortalecimento desses movimentos, o cuidado e o apoio às pessoas que tiveram seus direitos violados ou que vivem em situação de vulnerabilidade social, estendendo o trabalho já realizado pela equipe psicossocial do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) da Defensoria do Rio. Em julho, a Rede foi destaque em matéria exibida no “RJ 1ª Edição”, da TV Globo (clique aqui para assistir).

A atuação da Raave descentraliza o acolhimento da Defensoria, orientando e encaminhando as pessoas assistidas para uma das instituições parceiras. Na Uerj, a Urdir oferece esse serviço através do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), do Instituto de Psicologia.