Universidade avança na promoção da inclusão e da igualdade de gênero entre cientistas

08/03/202117:02

Diretoria de Comunicação da Uerj

Neste Dia Internacional da Mulher, as mães pesquisadoras da Uerj têm o que comemorar: em dezembro de 2020, a Reitoria publicou um Ato Executivo de Decisão Administrativa (Aeda 80/2020) que amplia o período de contagem de pontos no processo seletivo para o Programa de Incentivo à Produção Científica, Técnica e Artística (Prociência). Isso significa que as docentes que usufruíram de licença-maternidade no intervalo de cinco anos que antecedem a seleção terão um ano adicional para contabilização de suas produções acadêmicas, por cada licença, até o limite de dois anos. A medida beneficia não só as mães biológicas, mas também as adotivas e as não gestantes em união homoafetiva. 

A conquista foi uma das reivindicações do Grupo de Trabalho (GT) de Mães Cientistas da Uerj, criado no ano passado com o objetivo de diminuir os impactos da queda da produção acadêmica causada, principalmente, pelos cuidados que a mãe precisa dedicar ao bebê, em especial no seu primeiro ano de vida. “Esse Aeda permitiu que eu continuasse na disputa pela bolsa do Prociência. Caso contrário, teria perdido todo o meu trabalho de 2015, que foi um ano bem produtivo na minha carreira. De 2018 para cá, quando me tornei mãe, continuei publicando, fazendo o que a academia nos exige como pesquisadoras. Mas é inegável que a produção diminui nessa fase da vida”, relata Waleska Aureliano, do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, uma das criadoras do GT e mãe do Miguel, de 2 anos.

GT Mães Cientistas da Uerj em reunião virtual

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Para o pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa da Uerj, Luís Antônio Campinho Pereira da Mota, a medida traz um impacto positivo para as mães cientistas. “Reconhecemos que existe, sim, um prejuízo e, por isso, também estudamos atualmente a proposta de uma carga horária fixa de 20h para pesquisadoras no Banco de Produção Científica (BPC), em vez das 40 horas semanais (em média), para aquelas docentes que foram mães há pouco tempo”.

Políticas institucionais e mudança de cultura 

O debate sobre a repercussão dos filhos no meio científico vem ganhando força nos últimos anos, o que é fundamental para a permanência de mais mulheres em instituições de ensino e pesquisa. Outra entidade que aderiu à política de apoio a esse público foi o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que, desde 2015, permite a prorrogação de bolsas em caso de maternidade.

Em 2017, o projeto Parent in Science surgiu com o objetivo de averiguar o impacto da maternidade na carreira das mulheres cientistas. Em pesquisa realizada com docentes de todo o Brasil ainda antes da pandemia, 45% das mães disseram que não têm disponibilidade para trabalhos científicos em casa; ou os fazem muito raramente ou com muita dificuldade. Já 21% das mulheres se dedicam à ciência após os filhos dormirem. A mesma pesquisa aponta que a queda na produtividade e no acesso a financiamentos é uma realidade comum para mulheres após se tornarem mães.

Segundo Amanda Danelli, do Departamento de Turismo da Uerj, membro do GT de Mães Cientistas e mãe de Flora, 5 anos, uma mudança de cultura mais ampla é necessária para garantir condições efetivamente equânimes. “As universidades e agências de fomento têm oferecido medidas que contribuem bastante na busca da equidade, mas não abrangem as condições de produção das mulheres. É preciso também fazer um outro tipo de reflexão, que não entenda o cuidado como uma tarefa exclusivamente da mulher”, conclui.