Três obras semifinalistas representam a Uerj em três categorias da primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico

17/07/202412:24

Diretoria de Comunicação da Uerj

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) está representada por três obras entre os semifinalistas da primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico. Anunciada na quarta-feira (10/7) pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a lista com os dez títulos de cada categoria da premiação inclui livros vinculados à Universidade nas categorias Ciências Biológicas, Biodiversidade e Biotecnologia; História e Arqueologia; e Filosofia. Os dois primeiros foram publicados pela Editora da Uerj (Eduerj) e o terceiro é fruto de um trabalho acadêmico orientado pelo diretor da Eduerj, Gustavo Krause, no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade.

Desdobramento da mais tradicional premiação literária do Brasil – o Prêmio Jabuti, na 66ª edição em 2024 – o concurso foi concebido para atender à crescente produção acadêmica publicada no Brasil. Com esse objetivo, o Jabuti Acadêmico volta sua atenção às contribuições significativas nas áreas científicas, técnicas e profissionais. Nesta primeira edição, 1.953 obras foram inscritas.

“Naturalmente, estou bastante orgulhoso, como editor executivo da Eduerj, com os dois livros que a nossa editora publicou e que são semifinalistas do Prêmio Jabuti Acadêmico. Ressalvo, é importante dizer isso, que essas excepcionais publicações são, ambas, frutos da gestão anterior da editora”, frisou Krause. “Essas indicações são extremamente importantes para toda a Universidade. Como professor, no entanto, estou mais orgulhoso ainda, é claro, com a condição de semifinalista do mesmo prêmio da minha ex-orientanda de Doutorado em Letras da Uerj, hoje ‘doutora com louvor’, Naiara Barrozo, relacionando José Saramago a Michel de Montaigne”, completou.

Uma abordagem inédita

 Samambaias e Licófitas do Brasil: biologia e taxonomia”, organizado pelos professores Marcelo Guerra Santos, da Uerj; Lana da Silva Sylvestre, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Augusto César Pessoa Santiago, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – integrantes do Núcleo de Pteridologia da Sociedade Botânica do Brasil – e publicado pela Eduerj, está concorrendo na categoria Ciências Biológicas, Biodiversidade e Biotecnologia. A obra revela a experiência de 41 pesquisadores brasileiros no estudo de diversos temas relacionados às samambaias e licófitas ocorrentes na nossa flora.

Marcelo Guerra Santos: “Enorme vitória estar entre os semifinalistas”

Segundo o professor Marcelo Guerra Santos, estar entre os semifinalistas representa o reconhecimento do trabalho árduo de pesquisadores/professores brasileiros ao estudo e à disseminação dos conhecimentos sobre as samambaias e as licófitas. “O livro reflete a importância e o destaque ambiental que esses dois grupos de plantas possuem para a sociedade e para o planeta. Percebemos que havia uma grande demanda de um livro em língua portuguesa sobre samambaias e licófitas que fosse destinado aos cursos de graduação e pós-graduação em Ciências Biológicas, Botânica e áreas afins. A pouca literatura existente não abordava conceitos e metodologias atuais no estudo desses grupos de plantas, assim como não davam destaque aos estudos realizados na flora Neotropical e, em especial, na brasileira”, declara.

Estar entre os semifinalistas já é uma vitória

 “Foi uma enorme vitória estarmos entre os dez semifinalistas; ficar entre os cinco finalistas seria uma honra”, afirma Santos, que também reconheceu a importância de todos que, de alguma forma, colaboraram com o resultado. “Gostaríamos de externar a nossa gratidão aos companheiros autores e revisores científicos, ao Núcleo de Pteridologia da Sociedade Botânica do Brasil, à Eduerj, e a todos que acreditaram e nos auxiliaram na construção dessa importante obra da Botânica brasileira”, ratifica.

A publicação “Samambaias e Licófitas do Brasil: biologia e taxonomia” é ilustrada com exemplos da diversidade de samambaias e licófitas tropicais. O e-book, no formato epub, pode ser baixado gratuitamente no site da Eduerj. Exemplares impressos podem ser comprados tanto na página da editora quanto nas livrarias.

Expandindo os estudos africanos e afrodiaspóricos

 Entre o escudo e a azagaia: uma história política do Reino Zulu no século XIX”, de Evander Ruthieri da Silva, semifinalista na categoria História e Arqueologia, é outra obra publicada pela Eduerj. No livro, Silva analisa a trajetória do Reino Zulu, um dos principais grupos étnico-linguísticos e culturais na África do Sul, com cerca de 10 a 12 milhões de pessoas. O estudo apresenta o panorama da construção de um centro de poder político Zulu, contraposto a um contexto de transformações socioeconômicas iniciadas ainda no século XVIII, fundamentado em relações de chefaturas e comunidades linhageiras.

Evander Ruthieri da Silva concorre na categoria História e Arqueologia

“Acredito que esta indicação, assim como as de outros livros selecionados na categoria História e Arqueologia, demonstra uma expansão significativa no campo da história africana e afrodiaspórica no mundo editorial. Espero que este livro, que tem caráter introdutório ao tema, contribua para o campo dos estudos africanos, do ensino de história da África e estimule novas pesquisas sobre sociedades e culturas africanas sob uma perspectiva histórica”, frisa o autor.

Uma conversa por um túnel do tempo

Publicado pela editora 7 Letras, “José Saramago leitor de Montaigne: a presença dos Ensaios nos Cadernos de Lanzarote” concorre na categoria Filosofia. O livro é fruto da tese de Doutorado que Naiara Martins Barrozo desenvolveu no Programa de Pós-graduação em Letras da Uerj entre 2017 e 2021, orientada pelo professor Gustavo Krause. No título, a autora já coloca o desafio a que se propõe: estabelecer conexões fundamentais não apenas entre literatura e filosofia, mas também entre autores de séculos tão distantes entre si. “A partir de vasta e cuidadosa pesquisa, Naiara promove a conversa, neste túnel do tempo, entre o príncipe dos ateus contemporâneos e o fundador do ceticismo moderno, revelando-se uma pensadora da melhor qualidade. Pela sua hipótese central, o que José Saramago propõe, nos seus Cadernos de Lanzarote, é a escrita de um texto especular que tem como paradigma justamente os ‘Ensaios’ de Michel de Montaigne”, afirma Krause no prefácio da obra.

Naiara Barrozo estabelece conexões entre literatura e filosofia

De acordo com Naiara, a escrita do livro foi um processo que envolveu não apenas a relação de Saramago com Montaigne, mas também o momento vivido por ela própria. “Eu já pesquisava sobre o ensaio como um vínculo entre os autores e decidi explorar isso. Mas o livro é também uma forma de elaboração do luto pelos dez anos da perda da minha mãe. Foi um momento de ruptura da minha vida, em que fiquei desconfigurada. Depois, meu filho nasceu e a vida acadêmica parou, ficou mais difícil. Mas, ao longo da elaboração do texto, apesar de toda a dificuldade da pandemia, eu comecei a me repensar, a tomar consciência e a sentir as coisas de modo um pouco diferente. O livro fala do ensaio, está implícito ali como uma forma de elaboração do luto, fala do surgimento do gênero de certo modo como uma forma de elaboração de perda e de reconstrução de si na escrita”, revela.

Lista de peso

Naiara comenta também sobre a importância de estar em uma lista ao lado de mulheres já reconhecidas por suas obras. “Não acreditei muito quando vi que entrei na lista de indicados da Filosofia, porque é um trabalho de crítica literária. E, para mim, que sou uma mulher parda, foi uma grande surpresa estar nessa lista com Sueli Carneiro e Marilena Chauí. É uma grande honra”, admite.

O resultado dos cinco finalistas em cada categoria do Prêmio Jabuti Acadêmico será divulgado no dia 18 de julho, às 12h.