Diretoria de Comunicação da Uerj
Pesquisadores e profissionais da área da saúde se reuniram, nesta quarta-feira (16), para a abertura do Seminário Internacional “Políticas farmacêuticas nos Brics+ e possíveis propostas de ação para o Brasil”, promovido pelo Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro (IMS) da Uerj e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em mesas-redondas, realizadas no auditório 111 do campus Maracanã, os participantes discutiram a experiência brasileira e de outros países no setor de medicamentos, os desafios enfrentados e a formulação de políticas públicas.
Em seu discurso, a reitora Gulnar Azevedo e Silva destacou a relevância dos grupos de pesquisa da Uerj para o desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro e também para a área da saúde. “Este seminário e a parceria com a Fiocruz mostram nossa potencialidade e a vontade de continuar trabalhando, de forma interdisciplinar e integrada, garantindo que todos tenham acesso à saúde. A Uerj é uma universidade inclusiva e faz ciência vinculada às necessidades da nossa população”, frisou.
A vice-presidente da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, citou o crescimento das desigualdades e diversos problemas estruturais da área da saúde e apontou alguns caminhos para equacionar o problema. “Observamos uma grande concentração no setor de medicamentos e vemos contradições mesmo no Sistema Único de Saúde (SUS). Para sair disso, precisamos de políticas nacionais mais abrangentes, voltadas ao desenvolvimento científico e tecnológico. Também devemos nos articular com outros países da América Latina e os membros do Brics. É fundamental essa agenda de cooperação internacional para que tenhamos um rearranjo geopolítico”, afirmou.
Para o professor Paulo Henrique de Almeida Rodrigues, pesquisador do IMS e coordenador do Seminário, o país ainda apresenta uma grande defasagem na área farmacêutica. “Somos um dos maiores mercados consumidores do mundo em medicamentos de uso humano e animal. Contudo, a produção brasileira, a pesquisa e a formação de recursos humanos para essa indústria tão fundamental estão muito aquém das necessidades do sistema e, principalmente, da população”, comentou. Segundo ele, alguns países, como China, Índia e Cuba, têm envidado esforços para romper monopólios que asseguram lucros para poucos e dificultam o acesso da maior parte da humanidade a medicamentos.
Inovação no Sul Global
Na mesa “Os desafios da inovação no Sul Global e possibilidades de parceria Sul-Sul (Brics?)”, três palestrantes estrangeiros abordaram diferentes ações implementadas no cenário internacional. A mediação ficou a cargo de Jorge Bermudez, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp) e da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS) da Fiocruz.
No encontro, a professora Aparna Srivastava, que já dirigiu o Departamento de Comércio da Índia, ressaltou que a produção indiana de vacinas e genéricos cresceu exponencialmente nas últimas décadas e hoje atende aos mercados doméstico e internacional. O país adotou uma legislação que regula os preços praticados pela indústria e mantém um bem-sucedido programa governamental que promove o acesso de pessoas de baixa renda a produtos farmacêuticos.
Em seguida, a representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Judit Rius Sanjuan, lembrou que a pandemia de Covid-19 evidenciou a extrema concentração dos investimentos em ciência e tecnologia no setor da saúde em poucas companhias e países. Em 2021, a agência aprovou uma resolução que propõe medidas para ampliar a capacidade dos estados-membros de produzir remédios essenciais. Essa política inclui estímulo à pesquisa e inovação, além de acordos de cooperação e a discussão sobre propriedade intelectual (patentes).
Já o diretor da Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDi) América Latina, Sergio Sosa-Estani, salientou que a entidade sem fins lucrativos busca promover o acesso equitativo a medicamentos para populações negligenciadas, por meio de parcerias inovadoras com a academia, a indústria, os ministérios da saúde e sociedade civil organizada. Com nove escritórios distribuídos em cinco continentes e 20 projetos em seu portfólio, a DNDi trabalha para desenvolver novos tratamentos, seguros, eficazes e acessíveis, para doenças como malária, leishmaniose, Chagas, hepatite C e dengue.
A programação do seminário incluiu, ainda, as mesas “Políticas industriais farmacêuticas nos Brics+: passado e presente” e, nesta quinta-feira (17), “A experiência brasileira e a articulação entre ciência, política industrial e formação de RH: onde estamos e para onde vamos?” e, por fim, “Acesso aos medicamentos e interesses econômicos no Sul Global: caminhos possíveis”.
Foto: George Magaraia