Rastros do tempo: estudo pioneiro da Uerj comprova presença de dinossauros no Rio Grande do Norte

09/11/202117:37

Diretoria de Comunicação da Uerj

Uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em parceria com o Instituto Cavanis (Veneza, Itália) e o Museu Câmara Cascudo (UFRN), conquistou um marco para a paleontologia brasileira, ao fazer o primeiro registro de pegadas de dinossauros encontradas no território do Rio Grande do Norte. Embora as marcas já fossem conhecidas nos estados vizinhos Paraíba e Ceará, o estudo traz evidência inédita de que os gigantescos animais também viveram em território potiguar.

As pegadas foram identificadas como pertencentes a dinossauros herbívoros de duas espécies: o saurópode, que pesava até 13 toneladas e tinha entre 9 e 12 metros de altura, e o ornitópode, com aproximadamente 8 metros de comprimento e cerca de 4 toneladas. Esses bichões viveram no período Cretáceo, há mais ou menos 120 milhões de anos.

De acordo com Fernando Barbosa, pós-doutorando da Faculdade de Geologia da Uerj e integrante do grupo de pesquisa, a Bacia Potiguar é bastante estudada no mundo paleontológico, especialmente devido à grande ocorrência de fósseis de invertebrados marinhos em rochas carbonáticas, de uma unidade denominada Formação Jandaíra. No entanto, as rochas areníticas da Formação Açu, onde as pegadas foram encontradas, não despertavam grande atenção até pouco tempo atrás, pois eram consideradas praticamente sem fósseis.

“Nosso achado muda completamente o cenário, já que demonstra as primeiras ocorrências de pegadas em toda a Bacia, bem como a primeira evidência da presença de dinossauros no Rio Grande do Norte. Assim, ampliamos o número de sítios paleontológicos com registro de pegadas no Brasil”, afirma. 

O interesse do pesquisador da Uerj pelo tema surgiu ainda na graduação em Ciências Biológicas, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Fui orientando da professora Maria de Fátima Ferreira dos Santos no laboratório de Paleontologia do Museu Câmara Cascudo. Entrei como estagiário voluntário em 2008 e desde então tenho trabalhado em cooperação com a instituição”, conta Barbosa.

As pegadas foram encontradas no município de Assú, interior do estado, em um pavimento de rocha arenítica, no início dos anos 2000. A responsável pela descoberta foi justamente Maria de Fátima, que participava de uma atividade de campo na cidade.

“Foi feito um bom número de fotografias, enviadas ao professor Giuseppe Leonardi, paleontólogo ítalo-brasileiro e uma das maiores referências mundiais em pegadas fósseis, que sugeriu se tratarem realmente de pegadas de dinossauros. Alguns anos depois, Leonardi visitou o local e confirmou o achado. Entretanto, devido às inúmeras atividades de ambos os profissionais, só agora em 2021 o trabalho foi devidamente documentado em uma revista científica”, explica Fernando Barbosa.

A descoberta foi publicada no dia 27 de setembro no periódico Anais da Academia Brasileira de Ciências. A edição que contém o artigo científico de autoria dos três pesquisadores homenageia o professor Diógenes de Almeida Campos, naturalista, paleontólogo, chefe do Setor de Paleontologia do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Ele foi responsável por uma das mais importantes coleções de fósseis do Brasil.

Leia o artigo completo: SciELO – Brasil – First dinosaur tracks from the Açu Formation, Potiguar Basin (mid-Cretaceous of Brazil).

Reconstrução artística: Guilherme Gehr