Diretoria de Comunicação da Uerj
Sujeita a deslizamentos devido ao relevo acidentado da Mata Atlântica, a Estrada Abraão – Dois Rios, na Ilha Grande, litoral sul do estado do Rio de Janeiro, também conhecida como Trilha T-14 do Parque Estadual da Ilha Grande, está prestes a receber um projeto de pavimentação. E uma das etapas mais importantes do planejamento, o levantamento topográfico, executado com o auxílio de drones equipados com sensores para mapeamento em 3D, já foi realizada pela equipe do projeto “Desmistificando o uso de drones nas geociências”, da Faculdade de Geologia (FGEL) da Uerj.
Única estrada da ilha, a via possui cerca de 9 km de extensão, segundo o professor Enrico Pedroso, coordenador do Laboratório de Sensoriamento Aplicado (LARS) da FGEL e responsável pelo projeto. Ela já foi também chamada de Estrada da Colônia – nome da época em que o antigo presídio, o Instituto Penal Cândido Mendes, funcionava como colônia agrícola para detentos. Atualmente, ela é a principal ligação entre a Vila do Abraão – localidade que serve de “porta de entrada” para a Ilha Grande – e a Vila de Dois Rios, onde se situam o Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (Ceads), voltado para pesquisas sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável, e o Ecomuseu Ilha Grande, ambos da Uerj.
Geraldo Cerqueira, prefeito dos campi da Universidade, lembra que a Estrada Abraão – Dois Rios não recebe manutenção estrutural desde 1994, data da extinção do presídio e mesmo ano em que foi assinado o termo de cessão de uso da área para a instalação do Ceads. “Considerando o tempo decorrido, o agravamento imposto pelas condições climáticas da região e a logística necessária para atender aos usuários da Vila Dois Rios, a recuperação da estrutura da estrada se tornou imprescindível para o bom atendimento ao campus da Ilha Grande, da Uerj. Há necessidade de obras de pavimentação, drenagem e de contenção de encostas”, alerta.
Informações da Prefeitura dos Campi apontam que, em fevereiro de 2023, em uma reunião em que estavam presentes a Reitoria da Uerj e a Presidência da Fundação do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Rio de Janeiro (DER-RJ), foi acordado que seria enviada pela Uerj ao DER toda a documentação necessária à licitação das obras. O levantamento topográfico da estrada foi uma exigência do DER, e, em junho do mesmo ano, a Prefeitura dos Campi se reuniu com o professor Enrico Pedroso, com o objetivo de viabilizar o mapeamento por drones por meio de seu projeto de extensão.
De acordo com Pedroso, o levantamento topográfico já foi realizado. Ele acrescenta que, com os dados do mapeamento já entregues ao DER, o próximo passo é a execução das sondagens geotécnicas nos pontos mais críticos. “Essas sondagens serão essenciais para avaliar as condições do terreno antes das obras de contenção e reestruturação. Atualmente, o projeto está em fase de orçamentação e licitação junto ao DER e à Prefeitura dos Campi da Uerj”, adianta.
Segundo Cerqueira, as exigências burocráticas para pavimentação, drenagem e contenção das encostas vão desde a aprovação junto ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea), por se tratar de um parque estadual, até a obtenção de recursos para a execução. O apoio do DER tem sido visto por ele como um facilitador para que a obra seja executada. “O mapeamento topográfico é uma etapa do projeto. A construção da estrada vai permitir a circulação com segurança de veículos que transportam pessoas, dentre elas professores, estudantes, servidores, terceirizados e moradores da Vila Dois Rios, além de insumos para abastecimento do campus e da vila. Após a realização das sondagens, tudo será anexado ao processo para que o DER dê andamento à licitação da obra”, acrescenta.
Tecnologia LiDAR usada no mapeamento da Ilha Grande tem diversas aplicações
A tecnologia LiDAR (sigla para Light Detection and Ranging), que equipa os drones usados no projeto, é descrita por Pedroso como um método de sensoriamento remoto que emite e recebe ondas na porção do infravermelho (semelhante ao funcionamento de um radar). Esse método, segundo Pedroso, é muito utilizado para a topografia de precisão, porque mede exatamente a distância entre a plataforma – o drone – e o terreno. “O LiDAR gera uma nuvem de pontos, que são dezenas de milhares de pontos por unidade de área, possibilitando uma modelagem tridimensional da locação. Isso o torna extremamente útil para mapeamentos topográficos complexos”, acrescenta.
Pedroso celebra a relevância do projeto “Desmistificando o uso de drones nas geociências” e atesta que a tecnologia LiDAR usada na Ilha Grande é útil em uma vasta gama de aplicações, desde a segurança pública, agricultura de precisão, gestão de desastres naturais até o uso em shows e eventos. “Em aplicações como cadastro de IPTU e cadastro ambiental rural, por exemplo, drones equipados com sensores LiDAR podem otimizar o levantamento de dados. Já na área da segurança e do reconhecimento biométrico, eles podem ser utilizados em tempo real para vigilância e controle. Isso demonstra o grande potencial de impacto dessa tecnologia em diferentes segmentos da sociedade”, comenta.
De acordo com o professor, todas as atividades do projeto incluem alunos, a maioria da graduação – inclusive os de primeiro período –, mas também da pós-graduação. Ele ressalta que o objetivo é levar conhecimento sobre essa tecnologia inovadora para estudantes da Uerj e também de outras escolas e universidades, promovendo o entendimento deles sobre sensoriamento remoto, técnicas de imageamento, operação de drones, geração de produtos, elaboração de mapas, entre outros. “Discentes de várias áreas, como Arqueologia, Geologia e afins são bem-vindos. Não há restrição da área de aplicação. Todo aluno – pode ser até da Biologia, por exemplo – pode participar. Eles vão precisar de mapas para cartografar os seus estudos, que são gerados aqui no laboratório”, completa.
O resultado do mapeamento, relata Pedroso, é entregue no formato de mapas digitais bidimensionais (2D) e tridimensionais (3D), que podem ser carregados em softwares de sistemas de informação geográfica (SIG) ou de desenho de projetos de engenharia e arquitetura (CAD) para dar continuidade às aplicações específicas. “Os produtos gerados são extremamente úteis para diversas fases do planejamento e execução de obras – e fundamentais no diagnóstico de problemas –, como deslizamentos que podem bloquear uma estrada. A partir deles, os engenheiros civis desenvolvem projetos de reconstrução e contenção, que podem incluir a construção de muros de arrimo, a instalação de drenagens adequadas ou até mesmo a necessidade de pontes. Essa abordagem ajuda a garantir que as obras sejam executadas de maneira eficiente e precisa, reduzindo o risco de erros e imprevistos durante a execução”, exemplifica.
Disciplina eletiva universal amplia o conhecimento sobre uso de drones
Além de coordenar o projeto de extensão, Pedroso ministra três disciplinas com ementas sobre a utilização de drones e suas aplicações. A primeira é voltada para a Arqueologia; a segunda para a pós-graduação em Geologia; e a terceira, recentemente aprovada em conselho, consiste em uma disciplina eletiva universal. “Essa última dará acesso a alunos de várias unidades acadêmicas de diferentes centros de tecnologia. O foco é capacitá-los para operar drones, gerar e processar produtos e aplicar esses conhecimentos em atividades de mapeamento e imageamento, ampliando o uso de tecnologias inovadoras em várias áreas do conhecimento”, finaliza.