No Dia do Imigrante, iniciativas da Uerj estudam a formação do povo brasileiro e os desafios dos estrangeiros de hoje

25/06/202110:34

Diretoria de Comunicação da Uerj

 

O Brasil é reconhecido pela diversidade cultural e miscigenação, características potencializadas pela presença dos imigrantes. Para homenagear aqueles que deixaram para trás seus territórios de origem em busca de melhores condições de vida, celebra-se em 25 de junho o Dia do Imigrante. O tema é caro para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que preserva este importante movimento da nossa história no Museu da Imigração da Ilha das Flores, em São Gonçalo, e no Laboratório de Estudos de Imigração (Labimi).

Vista do cais de entrada da Hospedaria dos Imigrantes. Coleção Leopoldino Brasil

“O Museu da Imigração pretende compartilhar conhecimento sobre experiências históricas da imigração brasileira, que é parte constitutiva da formação da sociedade. E, ao mesmo tempo, também criar sensibilidade para uma recepção empática e solidária com esses novos migrantes e imigrantes que vêm surgindo em nossos dias”, explica Luís Reznik, professor de História da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da Uerj e coordenador do Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores. 

A iniciativa surgiu de uma parceria da Universidade com a Marinha do Brasil. O convênio de cooperação foi firmado em 2010 para preservar esse aspecto da história nacional, particularmente da Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores, a primeira criada pelo governo brasileiro, ainda no período imperial. A Hospedaria funcionou de 1883 a 1966 e chegou a receber a visita de Dom Pedro II. 

Professores Luís Reznik (quinto à dir.) e Rui Aniceto (segundo à dir.), da FFP/Uerj, coordenam o Centro de Memória

A inauguração do então Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores foi realizada em 2012, com o início das visitas guiadas. Em 2014, foram abertos dois novos espaços e ampliadas as atividades com exposições permanentes, palestras e seminários. No ano seguinte, foi assinado o Protocolo de Cooperação Cultural com os Estados Unidos da América, focado nas experiências dos dois países e, desde então, o Museu entrou para um circuito mundial dedicado à imigração. Finalmente, em julho de 2016, foi inaugurado o Museu da Imigração da Ilha das Flores, composto pelo Circuito a Céu Aberto e pela Exposição Interativa Permanente. 

Visita guiada – Museu da Imigração

“Hoje estamos vivendo o maior drama humanitário desde a Segunda Guerra Mundial, no que diz respeito a migrações internacionais e aos refugiados”, aponta Luís Reznik. “O Brasil tem recebido muitos imigrantes – são congoleses, angolanos, cabo-verdianos, haitianos e, ultimamente, muitos venezuelanos, vários deles em situação de refúgio”, completa o professor. 

“O Dia do Imigrante é uma data que deve vir junto com a frase ‘somos todos migrantes’. O mundo se move, as pessoas sempre se deslocaram por múltiplos fatores e as migrações são fenômenos cíclicos que fazem parte das sociedades”, acentua Érica Sarmiento, professora de História da Uerj e coordenadora do Laboratório de Estudos de Imigração (Labimi). “É um dia que deve ser celebrado a partir da integração, da diversidade cultural e dos benefícios que a pessoa migrante traz para as sociedades receptoras, mas também deve ser um dia de luta, de resistência contra toda forma de violência, xenofobia e discriminação que paira – e persiste – sobre o outro”.

Já Reznik classifica a situação dos imigrantes como um “drama de deslocamento, que também ocorre e ocorreu com uma parte da população brasileira, movendo-se de uma região para outra”. Ele ressalta que os equipamentos museológicos da Ilha das Flores dialogam com essa “acessibilidade contemporânea ao falar das experiências do passado, quando portugueses, italianos, espanhóis, alemães, austríacos, árabes em geral, judeus, japoneses e tantos outros chegaram ao Brasil, entre final do século XIX e início do século XX, além dos grupos que fugiam do fascismo, do nazismo, dos regimes autoritários e totalitários da Europa e no pós-guerra”. 

Um olhar sobre refugiados

O recém-lançado relatório Tendências Globais da Agência da ONU para os Refugiados (Acnur) apontou que o mundo alcançou um recorde: 82,4 milhões de refugiados e deslocados “até o final de 2020 como resultado de perseguição, conflito, violência, violação de direitos humanos ou eventos que perturbam seriamente a ordem pública”. O número representa 4% a mais de população refugiada e deslocada em relação aos 79,5 milhões do ano anterior. 

Na Uerj, temáticas dessa natureza são o foco do Labimi, que desenvolve projetos de pesquisa e extensão prioritariamente voltados para questões migratórias, sob a coordenação da professora emérita e fundadora do laboratório, Lená Medeiros de Menezes, e da professora Érica Sarmiento. 

O espaço reúne pesquisadores brasileiros e estrangeiros, integrando redes de investigações transnacionais. Consiste também em um laboratório de história oral, com o objetivo de disponibilizar as entrevistas para estudiosos do tema. 

“A pandemia potencializou ainda mais os deslocamentos, mesmo com todos os riscos que ela implica para as pessoas. Na trajetória desses migrantes, arrancados de seus lugares, muitos são acossados pelo narcotráfico, pela grilagem de suas terras e por muitas formas de violência, como a homofobia e a violência doméstica; são situações comuns em países cuja legislação não protege as vítimas”, alerta Sarmiento. 

A professora coordena também a Cátedra Sérgio Vieira de Mello, vinculada à Acnur, que completou quatro anos de existência na Uerj com atividades promovidas por diferentes unidades acadêmicas. A iniciativa oferece a migrantes e refugiados de vários países a oportunidade de participar de ações voltadas ao ensino, à pesquisa e à extensão universitária, facilitando sua integração no Brasil e atuando como um importante ponto de apoio e acolhimento, principalmente em tempos de pandemia.

“Vamos celebrar essa data com consciência humanitária, atentos contra a criminalização e a vitimização do migrante, deixando-os falar sobre as suas reais necessidades. Afinal, a alma não tem fronteira. Nenhuma vida é estrangeira”, conclui Sarmiento.

Relembre a série “Expatriados“, produzida pela TV Uerj em 2019. As reportagens contam a trajetória de estrangeiros que escolheram o Brasil – especificamente a Uerj – para desenvolver projetos profissionais e pessoais.