Diretoria de Comunicação da Uerj
Ao completar 75 anos, a Uerj reafirmou seu papel pioneiro nas políticas de inclusão ao realizar o I Encontro de Cotistas Egressos da Universidade, que lotou o Auditório da Reitoria e o Teatro Noel Rosa no último dia 27 de novembro. O evento reuniu no campus Maracanã formandos e ex-alunos beneficiados pelas cotas, e teve como objetivo central a criação de uma rede de apoio e a ampliação do debate sobre a consolidação das ações afirmativas no ensino superior.
Organizado pela Pró-reitoria de Políticas e Assistências Estudantis (PR4) e pela Superintendência de Equidade Étnico-racial e de Gênero (Supeerg) da Uerj, o Encontro representou um marco na consolidação da política de ações afirmativas da Universidade. “Trata-se de um esforço institucional para formalizar e dar maior capilaridade a uma política já prevista em lei: o acompanhamento dos estudantes após a conclusão de seus cursos”, explicou José Roberto Idafe, do Departamento de Articulação, Iniciação Acadêmica e de Assistência e Inclusão Estudantil (Daiaie), ligado à PR4.
Patrícia Santos, responsável pela Supeerg, enfatizou que a iniciativa foca no terceiro pilar da política de ações afirmativas: a saída e a inserção no mercado, complementando o trabalho já consolidado de ingresso e permanência. “O objetivo principal foi mapear e entender a trajetória desses profissionais após a graduação”, completou.
Compromisso para renovação das cotas em 2028
Ao longo do dia, alunos, egressos da Uerj, autoridades universitárias, lideranças políticas e representantes estudantis compartilharam suas trajetórias, reflexões e conquistas, evidenciando o impacto de uma política afirmativa que abriu portas, criou oportunidades e iniciou um processo estratégico de transformação da sociedade. No Auditório da Reitoria foram realizadas duas mesas-redondas compostas por cotistas egressos: “Trajetória de Cotistas Egressos da Uerj” e “Políticas de Ações Afirmativas: o impacto das cotas”.
As discussões buscaram qualificar o debate sobre a inserção profissional dos cotistas, investigando como o mercado de trabalho os recebe e em quais áreas conseguem se estabelecer. “Foi um primeiro passo para transformar essas reflexões em políticas institucionais estruturadas que qualifiquem o papel da Uerj na vida profissional de seus formandos”, ressaltou Patrícia Santos.
O encerramento, no Teatro Noel Rosa, contou com a leitura da carta de Compromisso em Defesa da Política de Cotas, assinada pelas lideranças presentes, visando à revisão marcada para 2028 da Lei Estadual nº 8.121 de 2018, que alterou a Lei Estadual nº 5.346, de 2008. A expectativa é garantir a continuidade da política de ações afirmativas por mais 10 anos a partir de 2028.
Enfrentamento dos medos e incertezas no cotidiano dos cotistas

Monique França, cotista egressa da Uerj e participante da mesa de abertura, lembrou os medos que marcaram sua entrada na Universidade, em 2010, para o curso de Medicina: o medo de perder o lugar conquistado, de não conseguir construir seu sonho e de sobrecarregar financeiramente a mãe, que com muita dificuldade custeava seus estudos. “Como moradora da Cidade de Deus, filha de uma doméstica e de um taxista, e sendo a primeira da família a acessar o ensino superior, eu carregava o peso e a esperança de toda uma história”, destacou.
“A importância da Uerj na minha formação é inquestionável. Ela me tornou médica, me potencializando profissionalmente e me fortalecendo na luta para ser quem eu escolhi ser, mesmo em espaços hostis. Minha presença neste lugar é o fruto concreto da política de cotas. Tenho a certeza de que essa política fez mais do que abrir uma porta. Ela traçou um novo mapa de existência, permitindo que uma menina negra, favelada e de origem pobre alcançasse um lugar que a sociedade brasileira tradicionalmente não desenhava para pessoas como nós”, acrescentou.
Olhar para o futuro
Uma das iniciativas do evento foi a criação de grupos de discussão, com a finalidade de debater temas cruciais, como mercado de trabalho, memória das políticas afirmativas e formação continuada. Como destacou Idafe, “mais do que um olhar para o passado, o Encontro teve uma orientação projetada para o futuro, visando ao empoderamento das populações cotistas e usando as ações afirmativas como uma bússola para o desenvolvimento da Universidade”, concluiu.

Henrique Silveira, cotista egresso da Uerj e atual subsecretário de Tecnologias Sociais na Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, destacou, na mesa de abertura do evento, sua origem na Baixada Fluminense. Filho de um serralheiro, ele contou que guiava carroças para ajudar o pai, até que enxergou com clareza a necessidade dos estudos como caminho para uma vida melhor. O espaço que o acolheu e abriu essa possibilidade foi um pré-vestibular social, experiência que ele destaca como fundamental dentro da política de cotas.
“É sobre transformação social, o poder da cota mudando uma vida. É a mobilidade social na prática: o cara que estava guiando uma carroça um dia, depois está na universidade e, de repente, está na gestão pública. Como um cotista que se formou aqui na Uerj, eu saí com uma certeza enorme: fui beneficiário de uma política de oportunidades. E a minha missão, desde então, é criar mais oportunidades para outros”, afirmou.
Momento crucial: a revisão da política de cotas em 2028

Segundo Daniel Pinha, pró-reitor de Políticas e Assistência Estudantis (PR4) da Uerj, a Universidade se orgulha da sua tradição em ações afirmativas, celebrada também nas comemorações de seus 75 anos em dezembro de 2025. “As cotas, instituídas no início deste século e fruto de lutas históricas, são um marco fundamental da Universidade, que promoveu uma verdadeira revolução no ensino superior brasileiro alinhando inclusão e excelência”, afirmou.
Ele considera que o objetivo central do encontro é iniciar um monitoramento sistemático dos cotistas egressos: saber onde estão, o que fazem e como atuam na sociedade. “Além de celebrar trajetórias e inspirar futuros, o evento traz reflexões de especialistas sobre a política em larga escala. Defendemos que as cotas se tornem uma política permanente de aprofundamento democrático, inclusão e reparação”, complementou.
O momento atual, continua Pinha, é crucial devido à revisão marcada para 2028 da lei de cotas atual, de 2018. “Queremos firmar compromissos com as autoridades presentes para o futuro das cotas, saindo daqui com uma Carta que garanta o aprofundamento e o aperfeiçoamento desta política fundamental”, concluiu.
Em defesa de uma ciência diversa
Segundo o deputado estadual Carlos Minc, quando as cotas começaram a ser defendidas, muitas pessoas – inclusive progressistas – eram contra. “Diziam: ‘Isso é bom, mas será que não vai rebaixar a qualidade acadêmica?’. E olha, as pesquisas demonstraram que não rebaixou. As notas dos cotistas são muito similares às dos não cotistas, com a grande vantagem de que a evasão é muito menor”, comparou.

A deputada estadual Dani Monteiro alertou que o desafio da universidade é representar um Brasil de muitas vozes, muitos povos, mas acima de tudo, de muita ciência. “Debater a Uerj é debater o futuro do país. É isso que levamos para nossa atuação no parlamento. Vamos juntos defender a Uerj, defender o ‘Vem Pra Cotas’ [programa da PR4 que busca informar estudantes de escolas públicas sobre as cotas e o vestibular], o Uerj Dialoga, os nossos projetos, a assistência estudantil. E defender, sim, que cientistas diversos produzem a ciência mais qualificada desse país”, argumentou a deputada.
Já Idafe salientou que foi o pontapé inicial para uma agenda permanente. “O encontro mobilizou a comunidade acadêmica para a construção de uma rede sólida de egressos, promoveu escutas sistemáticas das trajetórias dos formandos e inspirou a criação de políticas que venham consolidar o compromisso da Uerj com a equidade e a inclusão em todas as etapas da vida universitária”, sintetizou.
No encerramento, a reitora Gulnar Azevedo e Silva destacou iniciativas que reforçam a política de ações afirmativas, como o aumento do número de restaurantes universitários (RUs). “Fico muito feliz de comemorarmos 22 anos de vestibular com cotas. As universidades formam pessoas para a sociedade. Eu aprendi a ser cidadã na Uerj. Que a gente consiga fazer com que essa política seja completa e que realmente inclua todas as pessoas que têm todo o direito de chegar à universidade”, finalizou.
Pré-Egrex: acompanhamento e preparação de cotistas egressos
Oferecido dentro do programa Proiniciar – um programa de apoio acadêmico promovido pela PR4 da Uerj –, o curso online Pré-Egrex funciona como um preparatório para estudantes que já concluíram ou estão concluindo a graduação. O objetivo é fornecer cursos e atividades que auxiliem esses participantes em sua rotina acadêmica final e na transição para o mercado de trabalho ou para a pós-graduação.
Idafe considera que o Pré-Egrex faz parte do esforço em construir uma efetiva política de apoio da Uerj destinada aos estudantes cotistas egressos, reforçando assim a política de ação afirmativa ao estender, conforme prevê a lei, ações de acompanhamento e suporte para além da graduação. O curso contribui para que a inserção no mercado de trabalho deixe de ser um processo solitário e desamparado e passe a ser construída por meio de novos vínculos de rede entre os egressos e do fortalecimento do laço institucional com a Universidade.
“A intenção é suprir uma necessidade importante do ex-cotista, fornecendo gratuitamente o conhecimento necessário para que os egressos se preparem para concursos e processos seletivos, como os atuais concursos docentes de base unificada, por exemplo, cuja preparação normalmente exigiria custos com cursos pagos”, apontou Idafe.
Os interessados em participar do Pré-Egrex devem enviar uma mensagem para a equipe de iniciação e acompanhamento do Daiaie pelo e-mail pedagogico.daiaie@uerj.br.
Fotos: George Magaraia
