Diretoria de Comunicação da Uerj

A Galeria Candido Portinari, no campus Maracanã da Uerj, recebeu, na última segunda-feira (22), a abertura da exposição “Expressões da Arte Popular Fluminense”, organizada pelo Departamento Cultural (Decult), com curadoria de Ricardo Lima e Jorge Mendes. A mostra apresenta obras de 17 artistas que representam a vitalidade da cultura popular no estado, em linguagens que vão da pintura e escultura ao bordado, caricatura e instalações.
Lima destacou a importância da mostra como gesto político e cultural. “O estado do Rio de Janeiro é muito rico em arte popular, mas ainda vive uma invisibilidade enorme. Quando se fala nesse tipo de arte, logo se pensa no Nordeste, e os artistas fluminenses acabam esquecidos”, destacou. “Meu desejo foi mostrar, dentro da Universidade, que é estadual, essa produção atual e potente, com artistas vivos, contemporâneos, atuantes em nosso território”, definiu.

Para Mendes, curador do Museu Janete Costa, em Niterói, a exposição tem caráter de celebração e reconhecimento. “Nossa motivação foi valorizar a riqueza e a diversidade da arte popular produzida no estado do Rio de Janeiro. Reunir 17 artistas significa mostrar diferentes trajetórias, materiais e linguagens que revelam muito da cultura fluminense. E também é uma forma de homenagear Ricardo Lima e sua imensa contribuição para o mundo da arte”, revelou.
Fluminenses de fato e de direito
A seleção dos artistas inclui desde nomes já consagrados àqueles em sua primeira experiência em uma exposição, vindos da capital, do interior e do litoral. Não só nascidos no estado, mas também os que escolheram aqui viver e desenvolver o fazer artístico. Segundo Mendes, a ideia foi promover um diálogo entre gerações e estilos. “Buscamos contemplar artistas já reconhecidos e outros em início de trajetória. O critério principal foi a força expressiva das obras e o vínculo com o território fluminense”, afirmou.
Um exemplo de expressividade e conexão com o Rio de Janeiro é Getúlio Damado. Nascido na pequena Espera Feliz, cidade da Zona da Mata mineira, o artista chegou ao Rio de Janeiro ainda adolescente, e escolheu viver em um dos mais icônicos bairros cariocas, onde desenvolveu a sua linguagem artística. “Santa Teresa me abraçou; daqui só saio para o ‘andar de cima’”, declarou.
Com talento e criatividade, tendo como matéria-prima o material reciclável que encontra pelas ruas, como tampinhas plásticas e embalagens, Damado se tornou uma das referências da cultura urbana da cidade. Atualmente, ministra oficinas de arte, participa de eventos culturais e de exposições em museus, inclusive no exterior. “Eu considero a Uerj a minha segunda casa, venho aqui há muitos anos. O Ricardo Lima foi uma pessoa muito influente na minha vida também, porque a gente não aprende tudo sozinho. A gente aprende lendo, escrevendo, ouvindo. Não aprendi quase nada de escola”, admitiu.
Técnicas diversas, temas convergentes
Em suas obras, os artistas utilizam materiais e processos variados — pintura, bordado, caricatura, escultura em madeira, reciclagem de objetos, bonecas de pano, instalações arquitetônicas. Mesmo com tantas e diferentes linguagens, um ponto que une todos os trabalhos é o uso criativo de materiais acessíveis e reciclados — do retalho de pano ao objeto descartado —, como matéria-prima da arte. Essa prática aproxima os artistas da realidade popular, transformando o que é simples ou rejeitado em objeto de valor simbólico e estético.

Um dos eixos temáticos mais fortes é a memória coletiva e individual. Muitos artistas partem de suas próprias histórias ou da cultura do território em que vivem. Da Penha, busca referências nas favelas, blocos e rodas de samba; Damado recria o bonde de Santa Teresa e registra as muitas possibilidades de estruturas familiares; Marisa da Silva alinhava e une histórias de vida em bordados; Ademilson Felipe traz para o centro urbano cenários rurais em suas telas; Dan cria caricaturas das personalidades dos jornais. Há também a presença marcante de temas sociais e políticos, obras que denunciam desigualdades, a violência urbana, histórias de luta.
A estética da resistência
Outro ponto de encontro entre as produções dos artistas é a dimensão de resistência cultural. A maioria não teve formação acadêmica em artes plásticas, mas construiu linguagens próprias a partir de vivências comunitárias, familiares ou de trabalho. Suas obras funcionam como afirmação de identidade — negra, popular, periférica ou migrante. Essa estética da resistência valoriza o improviso, a oralidade e a coletividade, contrapondo-se à rigidez dos saberes acadêmicos. É a arte que nasce no quintal, na rua, na feira, na casa transformada em obra, e que, ao mesmo tempo, é recebida em museus, galerias e ganha o mundo.
A exposição “Expressões da Arte Popular Fluminense” está aberta ao público até 14 de outubro, de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h, no campus Maracanã da Uerj, na Rua São Francisco Xavier, 524. A entrada é gratuita.
Fotos: George Magaraia