Exposição na Uerj reúne obras de 43 artistas sobre favela ligada à história do campus Maracanã

15/03/202418:18

Diretoria de Comunicação da Uerj
Visitante observa a obra “Deu zebra”, de Rafa Bqueer. Foto: Isabela Martins

 

Quem hoje olha para o prédio de 12 andares do Pavilhão João Lyra Filho, os quatro andares do Haroldinho e as cinco outras construções do campus Maracanã não imagina que, nesse imenso terreno, havia a Favela do Esqueleto. O processo de remoção das moradias para erguer a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em 1969, durante a ditadura militar, impactou a vida dos que habitavam aquela região, gerando polêmica nos jornais da época.

Para resgatar essa história, a Uerj inaugurou, nesta quinta-feira (14/3), nas galerias Candido Portinari e Gustavo Schnoor, a exposição “Esqueleto: algo de concreto”. Organizada pela Coordenadoria de Exposições (Coexpa), do Departamento Cultural (Decult-PR3), a mostra convida o visitante a pensar criticamente sobre as relações de poder da sociedade, relacionando os acontecimentos que antecederam a construção do campus Maracanã com outros territórios, imaginários ou não, que conversam com a ideia central de disputa entre forças opostas.

Com curadoria de Alexandre Sá, André Carvalho, Analu Cunha, Ana Tereza Prado Lopes, Marisa Flórido e Maurício Barros de Castro, a exposição apresenta obras de 43 artistas de diferentes gerações e trajetórias, entre eles, Carlos Vergara, Hélio Oiticica e Leila Danziger. A linha conceitual do projeto é a devastação e os apagamentos simbólicos, discursivos e físicos da história dos corpos e a obsolescência programada da memória, tendo como questão a desapropriação da Favela do Esqueleto, durante a ditadura militar.

Reitora Gulnar Azevedo e Silva e pró-reitora de Extensão e Cultura Ana Santiago (ao centro) com os curadores Alexandre Sá e Ana Lopes. Foto: George Magaraia

No dia 20 de março, às 14h, o projeto segue com a Ocupação de Jefferson Medeiros, na Faculdade de Formação de Professores (FFP), em São Gonçalo, e a Ocupação de Sheila Mancebo, no Instituto Politécnico (IPRJ), em Nova Friburgo.

Na abertura da exposição, a reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, ressaltou que a proposta da atual gestão é expandir os espaços de arte e cultura para além do campus Maracanã: “Queremos dar todo o apoio a esse tipo de evento. É importante que a programação cultural chegue a todos os campi da Uerj”, afirmou.

Artistas de diferentes gerações

Uma das curadoras, a coordenadora da Coexpa Ana Tereza Prado Lopes celebra a diversidade de artistas de diferentes gerações presentes na exposição. “Entre os artistas, temos discentes e egressos da Uerj convivendo com esses nomes tão importantes da história da arte brasileira, e isso é muito bonito, essa é uma situação ímpar”, comemora.

Artista Claudia Hersz com a obra “Planches”

Para a artista Claudia Hersz, expor na Uerj sobre a Favela do Esqueleto é uma atitude política. Em “Planches”, intervenções sobre desenhos de Debret iniciadas em 2013, a artista se inspira nas obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas, na cidade do Rio de Janeiro. “Quando conheci a Uerj, em 1978, o local era pouco frequentado. Por isso, me deu um certo prazer entrar e cair numa exposição, numa galeria, num prédio de alunos que está vivo, humanizado”, comenta. “Eu fui abordando essas questões de gentrificação, de remoção das pessoas, de lugares marcados pela Secretaria Municipal de Habitação. O Brasil ainda tem algo de uma violência do século 19 no século 21”, declara.

“Esqueleto: algo de concreto” fica em cartaz de 15 de março a 9 de maio, de segunda a sexta, das 10h às 19h. Em paralelo à mostra, haverá uma extensa programação que inclui conversas com os artistas e curadores, seminário e minicursos.