Ancestralidade, resistência e religiosidade: exposição “Obìnrin de Memórias” ocupa o Centro Cultural do CAp-Uerj

12/09/202515:35

Diretoria de Comunicação da Uerj
Inspirada no conceito de “Amefricanidade”, de Lélia Gonzalez, a mostra reúne fotografias, escultura, vídeo, performance e poesia

 

O Centro Cultural do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj) inaugurou, no dia 5 de setembro, a exposição “Obìnrin de Memórias: entre ancestrais, cabeças e cabaças, imagens e palavras”, da multiartista Thais Ayomide. Inspirada pelo conceito de “Amefricanidade”, formulado pela intelectual Lélia Gonzalez, a mostra reúne fotografias, escultura, vídeo, performance e poesia, destacando a força da memória, da ancestralidade e da existência feminina. As obras dialogam com energias dos orixás, como Exu, Nanã e Erê, articulando passado, presente e futuro em imagens que convidam à reflexão e à celebração.

Segundo Thais, “Obìnrin”, do idioma iorubá, significa mulher, mas também mãe, filha e sacerdotisa. “Essa é a beleza da língua iorubá: às vezes uma palavra se ramifica em muitos significados. Aqui trazemos ‘mulheridades’, femininos que são memória, como um resgate ancestral, um mergulho em algo que diz sobre mim, mas também sobre um coletivo, que também sou eu. Mulheres que, muitas vezes, sustentam ilês, casas, famílias, vidas e tudo o que há de mais humano e sagrado”, define.

Restituição da dignidade

Thais Ayomide (de branco) com curadores e membros do CAp-Uerj

Um dos curadores da exposição — juntamente com Cynthia Esperança —, o artista plástico RafaÉis destacou a importância da mostra: “Essa exposição aconteceu no início do ano, no Centro Cultural da Uerj, no campus Maracanã, por ocasião de um grande evento anual chamado Ânima, que celebra a criação artística e cultural das mulheres. Na edição deste ano, a homenageada foi Lélia González”, explicou. “A Thaís trabalha com várias linguagens e toda a produção é muito motivada por criar lugares de dignidade nas artes para o povo preto. A gente sabe que, ao longo da nossa história, nas artes visuais, na fotografia ou nos noticiários televisivos, o povo negro é muito injustiçado pela imagem negativa que é construída. Thaís, com a sua produção artística, assim como Lélia, tem um papel fundamental para restituir a nossa dignidade e o nosso lugar de existência no mundo”, frisou o artista.

A exposição reúne obras de três séries fotográficas — “Baobá”, “Adé de Erê” e “Ilá” —, além de uma escultura e um vídeo, que se conectam ao colocar o corpo negro em um lugar de potência e ao valorizar as religiões de matrizes africanas. “É algo que, para mim, é muito caro: falar da importância das religiões que muitas vezes são perseguidas. Aqui eu trago um pouco da vivência do Candomblé. Boa parte dessas fotos foi feita em terreiros, e isso é muito importante também: trazer o terreiro para dentro do espaço acadêmico, de ensino”, enfatizou Thais. “É sobre valorizar o saber preto, sua oralidade. Valorizar outros saberes enquanto processos acadêmicos. Muitas vezes é difícil para nós ocuparmos esses espaços com segurança. É uma religião ainda muito discriminada, e precisamos falar sobre isso”, acrescentou.

O Centro Cultural do CAp-Uerj

A vice-coordenadora do Centro Cultural do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CCult-CAp), Lu Ricas, destacou a missão do novo espaço. “O Centro Cultural do CAp-Uerj é um projeto do professor Aldene Rocha, criado para fortalecer a dimensão artística e formativa do Instituto, por meio do convite a artistas para expor suas obras e também para a exposição de projetos de extensão do colégio, que são transformados em arte para melhor se comunicarem com os nossos alunos. Além deles, queremos convidar os estudantes dos outros campi da Uerj, servidores técnicos e docentes, e o público em geral, para conhecer o nosso espaço cultural e acompanhar a programação dos eventos”, concluiu.

A exposição “Obìnrin de Memórias: entre ancestrais, cabeças e cabaças, imagens e palavras” pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 13h30 às 17h30, e às quintas-feiras, das 10h às 13h, até o dia 16 de outubro, no Centro Cultural do CAp-Uerj. A entrada é gratuita e visitas com mediação cultural podem ser agendadas pelo telefone (21) 99411-9930 ou pelo perfil @ccultcap, no Instagram.

O CAp-Uerj fica na Rua Barão de Itapagipe, 96, Rio Comprido, Rio de Janeiro.