Restauração do Pêndulo de Foucault une arte, ciência e engenharia no campus Maracanã da Uerj

01/04/202511:55

Diretoria de Comunicação da Uerj
Professores José Soares Barbosa e Thiago Tuxi trabalham na restauração do Pêndulo de Foucault

 

O que aconteceria se os campos da arte e da física se unissem? O Pêndulo de Foucault representa essa conexão e pode ser conferido, desde 2014, entre as rampas e escadas do hall dos elevadores no campus Maracanã da Uerj. Após 11 anos de sua inauguração, este elemento, conhecido por estudantes e trabalhadores da Universidade, recebe agora um projeto de restauração idealizado por Malu Fatorelli, professora aposentada do Instituto de Artes da Uerj; José Soares Barbosa, professor aposentado do Instituto de Física da Uerj; Alexandre Sá, diretor do Departamento Cultural (Decult) da Uerj; e Thiago Tuxi, professor de Engenharia de Controle e Automação do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), que atua com seus alunos Alyssa Theophilo e Erik Iemni Fainbaum. O trabalho faz parte da pesquisa “Arquitetura de artista: a construção de poéticas contemporâneas”, cuja proposta é a ocupação criativa e produtiva dos espaços do campus.

De acordo com o diretor do Decult, Alexandre Sá, em 2024, ele e sua equipe identificaram que o pêndulo operava, mas, após certo tempo, parava. Essa constatação motivou o início do processo de restauração. “No momento, o foco da restauração está na parte elétrica. Manter esse projeto funcionando é um desafio, mas, dada sua relevância para a Uerj, nosso objetivo é garantir sua continuidade nesta e nas próximas gestões”, declara.

Desde 2014, o Pêndulo pode ser visto entre as rampas e escadas do hall dos elevadores no campus Maracanã

O pêndulo passa por um processo de recuperação devido a falhas nos circuitos e no maquinário, que o tornaram inoperante. Segundo o professor Thiago Tuxi, do Cefet, a instalação estava desativada devido a um problema característico em um de seus circuitos. “Esse foi o primeiro desafio do projeto e o estado do pêndulo serviu como um aprendizado para orientar os alunos na detecção da falha, que já foi corrigida. A expectativa é evitar recorrências. O próximo passo é tornar o sistema mais robusto e minimizar a necessidade de manutenção”, explica. Além disso, Tuxi enfatiza a importância da colaboração entre instituições acadêmicas. “A participação no projeto busca integrar o Cefet, promovendo uma conexão entre engenharia, ciência e arte, uma relação cada vez mais essencial na contemporaneidade. A cooperação entre os institutos é fundamental e, simbolicamente, o pêndulo atravessa todos os andares, unindo toda a Universidade”, complementa.

Alexandre Sá acrescenta que, assim que o pêndulo estiver plenamente operacional, será necessário capacitar monitores do Decult para ativá-lo e desligá-lo corretamente antes da abertura das galerias, já que a instalação não pode permanecer em funcionamento contínuo. “Além disso, quando o pêndulo operar conforme acreditamos que merece, será essencial qualificar nossos educadores para assegurar a longevidade desse símbolo da Universidade”, pontua.

A história da obra

O Pêndulo de Foucault, em seu projeto original, foi uma das criações mais conhecidas do físico e astrônomo francês Jean Bernard Léon Foucault, resultado de um experimento que comprovava as rotações da Terra em torno de seu próprio eixo. Quando está em movimento, o pêndulo sempre oscila no mesmo plano. No entanto, devido às orientações terrestres, parece que esse plano muda com o tempo. Na verdade, é o chão sob o pêndulo que se move junto com a Terra. No original, a estrutura era formada por um fio de 62 metros de comprimento, preso ao teto do Panteão de Paris, na França, e uma esfera de 28 kg.

Na Uerj, o “Experimento: desenho” foi inaugurado em 2014, inicialmente tendo a equipe formada pela professora do Instituto de Artes Malu Fatorelli e pelo professor do Instituto de Física José Soares, sendo o primeiro Pêndulo de Foucault em uma universidade e também na América Latina. Do ponto de vista da arte, com o objetivo de ressignificar os espaços da Uerj, ele representa um conceito de integração do movimento dos alunos nas rampas e o movimento do pêndulo, remetendo a uma reflexão sobre a Terra, o universo e o espaço em si. No local também foi colocada uma mesa de vidro com um círculo de lápis em que, à medida que o pêndulo vai oscilando, cria uma espécie de desenho. “O meu projeto de pesquisa se chama ‘Arquitetura de artista’, por isso, eu observo muito o campus da Uerj, seus espaços, e tinha aquele vão entre as escadas e as rampas, que embaixo as pessoas jogavam lixo, era uma coisa muito esquisita. Parei para pensar numa ocupação desse espaço e isso foi desdobrado na ideia do Pêndulo de Foucault da Uerj”, recorda a professora.

Trabalho de restauração do Pêndulo de Foucaut

A instalação do pêndulo envolveu desafios estruturais e de funcionamento. Segundo o coautor do projeto, professor José Soares Barbosa, inicialmente, a ideia era fixá-lo na laje, mas engenheiros e arquitetos descartaram essa opção devido ao risco estrutural. Como alternativa, foi projetada uma grande mão francesa para sustentação, visível no 12º andar, que sofre vibrações causadas pelo intenso fluxo de pessoas e pelos transportes ao redor. Para minimizar interferências externas e garantir a estabilidade da oscilação, um anel foi instalado logo abaixo do ponto de apoio, reduzindo os impactos das vibrações do edifício.

Ainda assim, desde sua instalação, um desafio previsto pelo professor era a perda gradual da amplitude do movimento ao longo dos anos: “Quando você o instala em um prédio como este e o coloca para oscilar, a primeira coisa que se observa é que, com o tempo, ele vai perdendo amplitude devido ao atrito viscoso. O pêndulo oscila com amplitudes cada vez menores até parar”, revela Barbosa.

A restauração atual dá continuidade a esse compromisso com a manutenção e preservação da obra, buscando não apenas corrigir falhas técnicas, mas também assegurar sua longevidade e pleno funcionamento. “É interessante como um projeto visível e aparentemente sólido revela tantas camadas invisíveis ao seu redor, como questões relacionadas à ordem, à limpeza, à manutenção da cidade e à eletricidade. Esse processo acaba evidenciando aspectos que, à primeira vista, passam despercebidos”, comenta Malu Fatorelli. “O pêndulo voltará a funcionar, e, além disso, há um outro processo em andamento, voltado para a recuperação estética, iluminação e a instalação de equipamentos reserva, garantindo sua preservação, para que ele se mantenha assim, feliz, e nós também”, conclui