Acervo Universitário do Samba, da Uerj, lança livro sobre história do Salgueiro em noite de autógrafos e música

24/10/202416:26

Diretoria de Comunicação da Uerj

Uma das maiores agremiações do carnaval carioca, o G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, é tema do livro “Salgueiro, o ‘quilombo’ moderno: batuqueiro, mandingueiro, diferente”, que será lançado na próxima terça-feira, dia 29 de outubro, às 18h30, no Teatro Odylo Costa, filho, no campus Maracanã, com entrada gratuita. A obra foi escrita por Nei Lopes, doutor honoris causa pela Uerj, compositor, cantor, escritor e estudioso das culturas e línguas africanas, em parceria com Leonardo Bruno, jornalista e escritor. Quem marcar presença poderá adquirir a edição luxuosa da publicação, com direito aos tradicionais autógrafos dos autores, e, ainda, assistir a uma roda de samba com ritmistas cantando clássicos da escola e de Nei Lopes, e a uma apresentação do casal de mestre-sala e porta-bandeira.

Com ilustrações do artista Antonio Vieira, o livro é o volume VII da série biográfica do projeto de extensão Acervo Universitário do Samba, vinculado ao Centro de Tecnologia Educacional (CTE), da Uerj. Na publicação, resultado de três anos de pesquisas e reuniões entre os autores e a equipe do projeto, a história do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro é contada, desde a sua fundação, em 1953, em forma de almanaque. Em suas 272 páginas, são retratados os homens, as mulheres e as crianças que construíram a escola. O prefácio é assinado pela pesquisadora, jornalista e escritora Rachel Valença.

Salgueiro, uma escola diferente

O compositor Nei Lopes / Foto: Márcia Moreira

“Salgueiro, o ‘quilombo’ moderno” desvenda muitas histórias da agremiação tijucana, entre elas a fama de ser “uma escola diferente”, como diz um verso do samba-enredo “Salgueiro, minha paixão, minha raiz – 50 anos de glória”, de 2003. Ex-integrante da Velha Guarda da escola, Nei Lopes argumenta que a “Furiosa da Academia” – como é conhecida a bateria do Salgueiro – é uma das poucas que soam diferente. “Observei em um LP que continha só os ritmos das principais escolas, lançado se não me engano em 1958, que dá para distinguir a bateria do Salgueiro das demais apenas ‘de ouvido’. Isso permanece até hoje e, se não fosse o Salgueiro, não teríamos enredos politizados, contestadores, críticos. Teríamos o luxo e a beleza simplesmente carnavalizados, como pede o ‘regulamento’ do consumo”, endossa Lopes.

De acordo com Leonardo Bruno, o Salgueiro consagrou os enredos negros no carnaval e introduziu a figura da passista, entre outras inovações promovidas pela escola. Também foi a agremiação que criou o samba-enredo mais cantado de todos os tempos, o famoso “Peguei um Ita no Norte (explode coração)”. “A escola surge, em 1953, com a intenção de competir com as três consideradas grandes à época: Portela, Mangueira e Império Serrano. Para isso, percebeu que precisava ser diferente na avenida, de modo a conseguir superar as grandes potências carnavalescas. E, assim, já nasce com esse DNA inovador, que pôde ser percebido ao longo das décadas”, conta.

Quilombo moderno

O jornalista Leonardo Bruno / Foto: Jefferson Meganni

Bruno explica que a formação de comunidades negras nas imediações do Centro do Rio de Janeiro foi uma constante na povoação da cidade no início do século passado. Para ele, o Morro do Salgueiro foi um desses espaços. “Ao longo dos anos, mesmo com a quadra deixando o morro e com a dispersão geográfica de seus desfilantes, a agremiação não deixou de desempenhar esse papel, o de ser um polo agregador de cidadãos excluídos socialmente, que encontraram ali a possibilidade de exercer sua arte (cantar, dançar, tocar) ou simplesmente enxergaram naquele terreiro um refúgio para estar entre os seus, num espaço seguro. Nesse sentido, vislumbramos no G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro um ‘quilombo moderno’”, assegura.

Parceria entre a Uerj e o “mundo do samba”

Nei Lopes publica livros desde 1981, num rol que já conta cerca de 50 títulos. “Assim, atendendo ao chamado da Uerj, juntei o material que tinha sobre o passado da escola e entreguei ao amigo e parceiro Leonardo Bruno, que conhece o presente do Salgueiro muito mais do que eu”, revela. Segundo ele, a publicação é o resultado da ligação entre um jornalista brilhante, especializado em cultura popular, e um sambista veterano, escritor de “africanidades”, como ele se define. “E o vetor que promoveu essa parceria foi o Acervo Universitário do Samba, capitaneado pela intuição do professor da Uerj Luiz Ricardo Leitão”, relata.

Bruno completa que, para ele, é uma honra escrever um livro em parceria com o mestre Nei Lopes. “O primeiro livro que escrevi na vida, em 2013, foi justamente sobre o Salgueiro, e convidei o Nei para fazer o texto de apresentação. Onze anos depois, tenho o prazer de lançar essa obra com ele. Certamente a parceria ficará marcada em minha carreira”, finaliza.

O acervo do samba

O Acervo Universitário do Samba é uma iniciativa acadêmica desenvolvida pela Uerj para promoção da cultura popular brasileira e do samba carioca. Coordenado pelo professor Luiz Ricardo Leitão, doutor em Letras pela Uerj, teve início em 2015 a partir da criação de biografias de figuras expressivas do mundo do samba, e já publicou edições sobre Noca da Portela, Zé Katimba, Aluísio Machado e Rosa Magalhães, entre outros. Seu acervo também reúne obras como os mais de 5 mil croquis de figurinos e alegorias assinados pela carnavalesca Rosa Magalhães.